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Sem Rede

"Sobre aquilo de que não conseguimos falar, é melhor calarmo-nos." (Was sich überhaupt sagen lässt, lässt sich klar sagen; und wovon man nicht sprechen kann, darüber muss man schweigen) - Wittgenstein.

"Sobre aquilo de que não conseguimos falar, é melhor calarmo-nos." (Was sich überhaupt sagen lässt, lässt sich klar sagen; und wovon man nicht sprechen kann, darüber muss man schweigen) - Wittgenstein.

Sem Rede

26
Mar09

Inveja social

Redes

Fonte: http://blogol.zip.net/

Fonte: http://blogol.zip.net/

Quão doce é o louvor e a justa glória
Dos próprios feitos, quando são soados!
Qualquer nobre trabalha que em memória
Vença ou iguale os grandes já passados.
As invejas da ilustre e alheia história
Fazem mil vezes feitos sublimados.
Quem valerosas obras exercita,
Louvor alheio muito o esperta e incit
a.

(Lusíadas, Canto V, 92)


A boa inveja: daqueles que têm "o louvor e a justa glória dos próprios feitos, quando são soados!"

Pois por ela, se fazem "obras valerosas".

 

A má inveja: de quem mama mais.

Pois por ela, se mata, rouba e trapaça.

 

Exemplos de objectos socialmente  invejáveis:

 

  • Uma ascensão meteórica na hierarquia duma empresa, do género da do funcionário bancário Armando Vara a vice-presidente do BCP.
  • Férias, SPAs e outros mimos deliciosos pagos por empresas falidas  a sobreviver com subsídios do Estado.
  • Um cargo na gestão duma empresa que depende de contratos com o Estado.
  • Outras coisas deste género.

(Ai, o que eles tiveram de suar!).

19
Mar09

O AZ do Ministério da Educação e Santana Castilho

Redes

Hoje no Público, de 18 de Março, Santana Castilho critica o folheto AZ do Ministério da Educação (A a Z da Educação. 2005-20091). O Z deve querer dizer mesmo que acabaram e que nada mais têm a fazer.

Vem a propósito comentar o comentário de Santana Castilho por as suas afirmações coincidirem com muito do que aqui tenho escrito.

À elogiada redução das “desigualdades no acesso à formação e ao conhecimento“, responde Santana Castilho:

“Era bom, mas não foi. Quando diminuiu a exigência do ensino ministrado na escola pública para níveis indigentes, mais não fez que acentuar as desigualdades. Os que só contam com a escola pública como fonte de saber estão hoje mais frágeis e empobrecidos. Os outros pagam no privado o que o Estado diz que dá mas não dá”

No post anterior, disse isso mesmo: a generalização facilitista de certificações escolares é um presente envenenado. Creio que os que acreditam na escola procuram algo que os diferencie, algo que custa a adquirir e não a indiferenciação que ignora os conhecimentos e as habilidades conquistadas.

Se aqui defendi o fim dos “chumbos”, não é por ser facilitista, mas por verificar os fracos resultados que a repetição de ano tem como estratégia pedagógica. Os países escandinavos reduziram a repetição de ano para níveis insignificantes. E se o PISA revela que esses países têm alunos do 10º ano com desempenhos que não ultrapassam o que se espera dum aluno do 7º ano, a verdade é que o nível global é muito superior. Creio que, num sistema assim, o que diferencia os alunos não é o ano em que estão, pois todos chegam a todos os anos, mas sim os desempenhos efectivos na avaliação do dia a dia.

Na Finlândia, por exemplo, parece-me que as expectativas das famílias vão para a possibilidade maior ou menor dos jovens entrarem para a universidade ou de acederem a cursos profissionais, de acordo com as capacidades efectivamente demonstradas.

A falta de clareza no significado, a confusão de critérios e a manipulação das desculpas, que vão da ordem do NEE, aos problemas socio-afectivos, ao risco de delinquência e aos dramas familiares, conduzem a pautas de notas, equalizadas, alinhadas, em que o caos que lhes dá origem é esquecido.

A luta contra o abandono escolar é uma das preocupações que faz já hoje subir os níveis “3”, cuja percentagem aumentará estrondosamente com a avaliação do desempenho docente. Creio que, em breve, atingiremos a fasquia de menos de 2% de repetições de ano da Finlândia, mas duvido que os testes PISA evidenciem essa fulgurante ascensão.

Será que quando atingirmos 98% de sucesso escolar, o dito abandono acabará na mesma proporção? Como os jovens com menos de 16 anos terão cada vez menos lugar no mercado de trabalho, e o lugar onde brincam, arranjam amigos e namorado(a)s é a escola, é provável que sim.

A questão é se os resultados avaliados em testes de leitura, matemática e ciências terão um melhoramento comparável.

Actualmente, um grupo considerável de alunos encontra-se ainda sujeito ao seguinte esquema que já aqui denunciei:

CHUMBO - REPETIÇÃO DE ANO - FACILITISMO

São demasiados os alunos que, na repetição de ano, continuam a não ter um aproveitamento positivo. Nessa altura, as suas notas são sujeitas a votação e eles passam por facilitismo.

Há muitos alunos cujos professores já concluíram que vêm para a escola, apenas porque têm que vir e o que interessa não é ensinar-lhes o que quer que seja, mas sim proporcionar-lhes uma estadia agradável que não lhes altere demasiado a estrutura neuronal, sobretudo o hemisfério esquerdo.

Optar pelo global, pelo sincretismo, pela espontaneidade, em que tudo se liga a tudo, é a via a adoptar, pois o que interessa é ser e estar. Mais do que o saber, deve a escola proporcionar o aprender a ser - na célebre expressão de Edgar Faure -, em que o ser é cada vez mais um misto de preceitos éticos que dá pelo nome de valores que se confunde muito frequentemente com a moral cristã e cada vez menos com a bagagem cultural e científica, com que as disciplinas clássicas integram o jovem na complexidade do mundo em que vive e lhe aumentam o poder sobre a realidade, completam a formação cerebral com poderosos instrumentos intelectuais, como a leitura, a escrita, o desenho, as técnicas, as artes, o cálculo, a geometria, a álgebra e o conhecimento científico, histórico e geográfico que lhe representam o mundo numa cada vez mais ampla multiplicidade de dimensões (sem pretender ser exaustivo).

As taxas de abandono ainda são elevadas e por isso Santana Castilho critica a extensão da escolaridade obrigatória:

“Se não conseguimos cumprir a escolaridade obrigatória de nove anos, para que serve subir a fasquia senão para aumentar o desastre?”

Evidentemente, o objectivo é manter as crianças o máximo tempo possível na escola, pois a política educativa está nas mãos de sociólogos, preocupados com a socialização e não com a formação humanística e científica:

“Transformar a escola numa enorme caserna, onde se guardam criminosamente crianças durante 12 horas em cada dia é objectivo de vesgos, mas não é objectivo de quem saiba o que é uma criança e o que deveria ser uma família. O que este Governo fez foi promover um conceito estalinista de educação, encarando os pais como meros operários a quem se retira o convívio e a responsabilidade pelos seres que geram. Alimentar uma solução em que os pais não têm tempo para estar com os filhos não põe coisa alguma ao serviço dos alunos e das suas famílias“.
17
Mar09

Apartheid pedagógico (ou um bantustão de contentores)

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Li que alunos ciganos foram colocados numa escola só para eles - uma escola de ciganos, com contentores em vez de salas.

Ouvi a senhora Directora Regional de Educação do Norte justificar tal medida com base nos princípios de "inclusão", "discriminação positiva" e de "tratar diferente o que é diferente".

Senti-me no meio dum lamaçal sociológico e antropológico em que os mesmos enunciados servem para fundamentar práticas contraditórias entre si.

Talvez muito do que se chama sociologia não passe afinal duma meta-linguagem ideológica que serve para traduzir grosserias num palavreado mais suportável. Ao lado do eduquês, temos, então,  como seu companheiro o sociologuês e o antropologuês.

A propósito dos conflitos entre ciganos e negros em bairros de realojamento, ouvi sociólogos dizerem que eles tinham sido guetizados e que para evitar tal coisa no futuro não se deveria criar bairros especiais de realojamento, mas antes dispersar as pessoas por bairros já existentes.

Em muitas escolas, evita-se criar turmas de ciganos ou de negros, para fugir ao estigma do racismo e da exclusão. Agora a inclusão significa o seu contrário, a separação das ditas crianças, que já que são "diferentes" têm que ser tratadas de maneira diferente.

É triste ver a sociologia e o relativismo antropológico e carnavalesco a impôr valores reaccionários e a interferir no que é do domínio pedagógico.

As crianças ciganas terão dificuldades pedagógicas tão grandes como muitas outras crianças que não o são. Se se criassem turmas com base em níveis de desempenho na leitura ou na escrita para facilitar o trabalho pedagógico, teríamos um critério funcional que agruparia numa mesma turma crianças portuguesas de diferentes origens, mas com um denominador pedagógico comum, a trabalhar com um professor sobre aquilo que precisam de aprender.

Há um abismo entre a diferenciação étnica e a pedagógica. Esta interpela o indivíduo, aquela as comunidades, lembrando-lhes sempre, não fossem elas esquecer-se, da sua diferença em relação aos que apenas são portugueses, sem etnia. Basta lermos as revistas dos gabinetes de informação sul-africanos da década de 70, a elogiarem o desenvolvimento separado, os enormes recursos colocados à disposição do Kwazulu, para compreendermos os riscos deste enredo.

Agora se se fazem turmas de ciganos em contentores,  qualquer dia fazem-se turmas de negros em biombos, e por aí adiante.

11
Mar09

Insucesso escolar

Redes

Numa busca de maior compreensão sobre a questão do insucesso escolar, recorri à consulta de obras de sociologia da educação. Em Sociologia da escola1 de Conceição Alves Pinto, surge a seguinte afirmação que veio confirmar os meus receios a respeito desta "ciência":

Em termos sociológicos, diremos que a análise da igualdade de oportunidades não se pode limitar à igualdade de acesso. Há que considerar ainda a igualdade de sucesso”2

Se a sociologia se apresenta como uma ciência, poderia pesquisar em que medida é que a escola interfere com a desigualdade social, mas não partir do princípio que a escola se deva caracterizar por igualdade de sucesso. Se sucesso quer dizer rendimento ou aprendizagens efectivas, terá que variar de indivíduo para indivíduo, por natureza diversos e não deve ser colocada em termos absolutos ou discretos, mas num contínuo, com variações de área para área curricular.

Na verdade, o sucesso escolar inclui, de acordo com a autora, não só o rendimento, mas também a permanência no sistema de ensino – a sobrevivência escolar que depende de decisões intimamente relacionadas com o rendimento, como o abandono, a escolha de carreiras escolares mais longas e a opção por saídas profissionais mais rápidas. No que respeita ao rendimento escolar, releva a retenção. Estes processos resultam na selecção escolar.

A retenção de ano é uma forma de selecção negativa:

Aquele que é retido num fim de ciclo ou num ano encontra-se impedido de, pelo menos temporariamente, prosseguir o seu itinerário escolar”3

Se é verdade que a repetição de ano é uma selecção negativa do aluno, penso que é também uma medida pedagógica que permite a real efectivação das aprendizagens previstas. Nesse caso, é também uma prossecução de estudos e não uma paragem. Portanto, há duas perspectivas, a pedagógica que se atém às reais aprendizagens e a sociológica, preocupada com os efeitos sociais dessas decisões pedagógicas.

Na análise de dados estatísticos relativos ao ensino em Portugal, a autora mostra que a população escolar sobrevivente, isto é, aqueles que vão vencendo os vários processos de selecção escolar, caracteriza-se por uma distorção social cada vez maior. Isto é, os grupos socioeconómicos mais privilegiados pelo rendimento e pelo grau de instrução dos pais têm uma proporção cada vez maior na população quando se comparam ensino básico com secundário, vias profissionais com vias de continuação de estudos e cursos médios com cursos superiores. Sintomaticamente, verifica-se também tal diferença de composição social da população entre os turnos da manhã e os da tarde das nossas escolas.

Sendo esta análise estatística, ela apenas mostra a vantagem relativa dos grupos socioeconómicos mais favorecidos e mais instruídos. A verdade é que são muitos os que, apesar de pertencerem a estratos de menores rendimentos e com mais baixo nível instrucional, conseguem ascender aos níveis mais elevados do sistema escolar. Inversamente, há outros, que não obstante a vantagem socioeconómica e cultural, soçobram. Creio que, para estes, a sobrevivência no sistema escolar, constitui verdadeira promoção social. Num sistema não selectivo, a sua vitória perderia qualquer significado e a sua escolarização não constituiria qualquer vantagem comparativa.

Sociologia da escola dá-nos uma perspectiva muito rica dos estudos e teorias sobre a relação entre desigualdade social e selecção escolar. As conclusões variam entre os que mostram que a escola é uma forma de reprodução da estrutura social do capitalismo, os que provam que a escola apenas confirma a desigualdade social e os que reconhecem que a escola produz diferenças.

A verdade é que todos nós conhecemos pessoas que “subiram na vida” graças à escola. Isto é, o seu estatuto socioeconómico mudou relativamente ao dos seus pais, graças à sua carreira escolar.

Confirma-se, sem dúvida, que há vantagens escolares de grupos privilegiados, mas que a escola também promove socialmente indivíduos, mas não o faz na medida em que os sociólogos o desejariam. Quer dizer que infelizmente a escola não muda a estrutura social.

A escola forma indivíduos para uma sociedade que é desigual. Há, por exemplo, números determinados de lugares para empresários, gestores, médicos, advogados, políticos, professores e, mesmo para artistas e actores. Além disso, alguns destes grupos, numa atitude de defesa corporativa, conseguem limitar o número de novos membros, a fim de preservar o seu estatuto. A probabilidade de um indivíduo aceder a uma estatuto socialmente elevado depende dos resultados escolares, do rendimento dos pais, do nível de instrução e da maior ou menor proximidade social relativamente às funções mais desejadas.

Por exemplo, se o filho dum rico empresário não conseguir realizar uma carreira escolar de sucesso, não deixará, por isso, de herdar a sua posição.

Além disso, a escola pública está condenada à impotência na luta contra os efeitos escolares indesejáveis da desigualdade social, pois os mais ricos criarão as suas próprias escolas que poderão ganhar mais crédito como formadoras de candidatos às classes sociais mais favorecidas. O pior que a escola pública pode fazer é forjar sucesso escolar através do facilitismo. Isso apenas desvalorizará socialmente as certificações escolares que atribui aos seus alunos.

Portanto, todas as medidas políticas tomadas no sentido de generalizar certificações escolares sem os conhecimentos e as competências referidas nos respectivos programas educativos não passam de hipocrisia social.

1Alfragide, McGRAW-HILL, 1995

2Cf. p. 9. Não faço qualquer juízo sobre o conjunto da obra, que nas primeiras páginas parece querer distinguir sociologia de política educativa e demarcar-se das correntes que reduzem a análise sociológica à perspectiva da reprodução social.

3Ver p. 12.

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