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Sem Rede

"Sobre aquilo de que não conseguimos falar, é melhor calarmo-nos." (Was sich überhaupt sagen lässt, lässt sich klar sagen; und wovon man nicht sprechen kann, darüber muss man schweigen) - Wittgenstein.

"Sobre aquilo de que não conseguimos falar, é melhor calarmo-nos." (Was sich überhaupt sagen lässt, lässt sich klar sagen; und wovon man nicht sprechen kann, darüber muss man schweigen) - Wittgenstein.

Sem Rede

22
Fev12

Wir Lehrer gegen die Rechtschreibreform

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Parece que é impossível fazer uma reforma ortográfica sem uma grande polémica e sem muita oposição. Os que divergem da mudança não sugerem nunca mudanças em sentido contrário, apenas se opõem a mudar os seus hábitos ortográficos. Tudo se resume ao seguinte - como está é que está bem. A escrita das palavras é uma aquisição feita em tenra idade. É uma norma cultural. A forma escrita da palavra, assim como as regras que aplicamos com todas as racionalizações que explicam as exceções tornam-se coisas absolutas que não queremos ver alteradas nem tidas à conta de meros arbítrios.

Na Reforma Ortográfica dos anos 90 na Alemanha, houve um estado - Schleswig Holstein - que resolveu desobedecer e não aderir ao acordo que envolvia três países - Alemanha, Suíça e Áustria.

Desenvolveu-se por toda a Alemanha o movimento "Wir Lehrer gegen die Rechtschreibreform" - Nós professores contra a reforma ortográfica.

Contudo, a nova ortografia aí está. Eu mal sei como era a anterior, pois já me basta a difiuldade do idioma para me preocupar com a história recente da sua escrita.

Fui alertado para este facto particular pela obra Spelling and society: the culture and politics of orthography around the world.

 

 

 

20
Fev12

Pinheirinho

Redes

O que aconteceu na favela do Pinheirinho que fica em São José do Campo no Estado de São Paulo?

Deixo de lado a questão de se houve mortos ou não, pois não consegui resolvê-la. Alguns vídeos no YouTube dizem que sim, mas não apresentam evidências satisfatórias e a polícia diz que não.

Cerca de 10000 pessoas foram expulsas das suas casas por ordem do prefeito e, ao que parece, do próprio governador - pois se o primeiro manda na polícia municipal, o segundo manda na polícia militar estadual. O proprietário do terreno é um tal Naji Nahas através da sua empresa Selecta que, estando falida, precisa de liquidez para pagar as dívidas. Embora o conflito fundiário persista há mais de trinta anos, teve a 22 de Janeiro este triste desfecho pelas piores razões.

Embora haja uma ordem judicial, a sua aplicação implica interesses de milhares de pessoas que viviam, é certo, em terra que não lhes pertencia, mas são cerca de 10 000 corpos que têm que ter um lugar onde estar. E este é o aspeto político que, quanto a mim, sobreleva os interesses da Selecta e do seu proprietário. O prefeito Eduardo Cury e o governador Geraldo Alckmin são culpados desta violência desmedida, desta cedência a interesses mesquinhos perante o drama das pessoas pobres que por ali viviam.

Do que vi no Youtube, prefiro o relato emocionado, mas ideologicamente tranquilo de Ricardo Boechat.

 

17
Fev12

Por que a escrita não pode ser transcrição fonética.

Redes

 

Os sons da fala são apenas realizações práticas e contextuais de unidades mais abstratas que fazem parte da língua que temos como nossa. As mesmas unidades abstratas são concretizadas de modo diverso de indivíduo para indivíduo, e no mesmo indivíduo, de um momento para outro e de um contexto verbal para outro.

Um amigo, numa intervenção que só se pode compreender como de paródia, pergunta porque é que escrevemos exato se dizemos [i'zatu]. Eu responderia, com verdade, que digo preferencialmente [e'zatu]. Deveria haver pelo menos duas maneiras de escrever exato, uma para ele e outra para mim? Acontece que, por vezes, também digo [i'zatu]. Então, deveria escrever como? Repare-se que quando escrevo não existe realização sonora. E está comprovado que a escrita não depende de uma realizaçao sonora, ainda que apenas mental.

A filologia explica porque é que exato se escreve com x. Deriva do latim exactu em que julgo que o x no periodo clássico se pronunciava [ks]. Há muitas palavras herdadas da língua do Lácio que têm este elemento latino - ex. Deveríamos em todas, mudá-las para ez ou, seguindo o meu amigo, para iz? Ora aqui enfrentamos variações contextuais:

  • em excitar, o x lê-se [∫] (símbolo que representa o som de ch)

Se nuns casos, escrevêssemos es-, noutros ez-, perder-se ia a noção da unidade ex- que herdámos numa série de palavras latinas e continua a funcionar sincronicamente na nossa língua.

Essas unidades também mudam de realização em processos flexionais e derivacionais:

  • porta diz-se ['pΟrtα]; porteiro deriva de porta e diz-se [pur'tαjru]; dever-se-ia escrever "purteiru"? Nesse caso, perder-se-ia a identidade da palavra como derivada.

A invenção da escrita foi a primeira abordagem linguística. A escrita descobriu os sons elementares da língua, ao mesmo tempo que revelou que eles correspondem a unidades abstratas que se concretizam de modo diverso. As letras não representam os sons efetivos que os falantes utilizam mas sim essas unidades abstratas. Por isso, é que podem ser lidas de maneira diferente. O r de porta pode ser dito apicalmente ou guturalmente sem qualquer problema, mas em caro e carro essa hipótese já não existe e a escrita viu-se forçada a dar conta dessa diferença distintiva, dobrando a letra.

 

O que está em causa nos acordos ortográficos não é aproximar-nos de uma escrita fonética; é apenas o acordo entre ortografias oficiais de vários países cujas diferenças linguísticas não são suficentemente grandes para justificar diferentes ortografias. A evolução ortográfica brasileira revelou que a letra c antes de consoante já não é consoante nenhuma; é apenas um vestígio de algo que já passou. Por isso, pode ser excluída sem grande prejuízo, pois não funciona na nossa sincronia.

 

De resto, a ortografia é essencialmente conservadora.

11
Fev12

O culpado do desastre da educação é você

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(http://t2.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcTZkWCpldDUXu6zzMXLAQ0kWW5boJrH2u7wzbSe5_Ivhmmf2cny-Q)

 

É o que nos diz Luís Cabral1, economista e professor duma universidade de Nova Iorque. O problema do fracasso escolar começa em casa. Luís Cabral aponta o dedo aos pais e encarregados de educação. Apesar de os professores e a gestão da escola também importarem, o essencial está na família.

A escola forma o capital humano que é, de acordo com o articulista, o fator mais importante da economia.

Se a cultura científica e tecnológica não é valorizada em casa, se os jovens são expostos à narrativa épica das travessuras escolares dos próprios pais num tom que desvaloriza os professores, se os jovens são enviados para a escola "porque tem que ser", "porque é obrigatório", se os pais querem ser populares junto dos filhos à custa da escola, piscando o olho às marotices dos pequenos, é quase certo que estes irão repetir os mesmos fracassos da geração anterior.

Em abono da sua tese, apresenta os dados de pesquisas americanas que mostram que os alunos mais bem sucedidos na escola são os filhos de famílias judaicas e sino-americanos que valorizam a escola e exigem constantes prestações de contas aos filhos do seu trabalho escolar.

1 Num artigo publicado no suplemento de economia da edição do Expresso de 28 de Janeiro.
03
Fev12

Cruzada contra o acordo

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A recente intervenção de Graça Moura como diretor do CCB levou-me a republicar este artigo.

 

Basicamente, acho que a mudança da ortorafia não tem nenhuma das consequências ditas gravosas para a língua portuguesa que Graça Moura anuncia. Em segundo lugar, a ortografia não é um sistema fechado, feito de regras universais. Não há nenhum princípio universal violado no novo acordo. A ortografia sempre foi uma manta de retalhos. Este acordo não a melhora nem a piora. Apenas a unifica um pouco mais. Esta é a opinião da maioria dos dos estudiosos da língua portuguesa que conheço, entre os quais, Malaca Casteleiro.

 

Vasco Graça Moura e Maria do Carmo Vieira encabeçam ao que parece um movimento de resistência contra o novo acordo ortográfico.

Num vídeo, aqui no Sapo, Maria do Carmo faz afirmações fáceis e sem qualquer fundamento.

Basicamente, temos que nos unir contra os políticos porque a língua é de todos e não só dos políticos e linguistas, pois a língua desenvolve-se muito lentamente e não por ordem política.

Tudo errado, meus caros! A verdade é que a língua portuguesa é uma realidade política desde o princípio. A variante escrita existe e impôs-se com a criação de um estado nacional, desde o rei D. Dinis até ao nosso tempo. A escrita que temos hoje resulta dos acordos ortográficos do século XX.

Quer o leitor voltar a escrever "mãi"? Olhe que José Saramago aprendeu a escrever assim: "mãi". Quer saber a minha opinião? Tanto faz! Desde que nos punhamos todos de acordo sobre a maneira como escrever a nossa língua. Ora um acordo é coisa que só pode ser feita pelos políticos.

Há alguma razão para os brasileiros e os portugueses deixarem que as normas ortográficas divirjam cada vez mais? Já leu Jorge Amado, Machado de Assis ou Lins do Rego? Sentiu alguma dificuldade? Há algum brasileirismo ortográfico que o perturbou na sua leitura? A mim, não! Porque sou tolerante a essas pequenas diferenças superficiais de que estes senhores fazem um cavalo de batalha. Injustos, ainda por cima, porque os brasileiros cedem também em muita coisa para se porem de acordo connosco.

Veja o sucesso das novelas brasileiras em Portugal. Sente que a sua língua está a ser agredida, que eles falam mal, ou, antes, que falam muito bem e que nós os compreendemos sem qualquer dificuldade?

Então é porque temos a mesma língua falada! E as diferenças dialectais dentro do Brasil e dentro de Portugal são maiores do que as diferenças entre as normas oficiais portuguesa e brasileira. Ah não acredita? Então divirta-se com o seguinte: compare um falante de uma telenovela com uma gravação de um falante de uma variante açoreana. Tem aí a evidência do que eu digo: quando aparece um açoreano ou um madeirense na televisão, por vezes, a RTP põe legenda, mas não precisa de o fazer nas telenovelas.

A minha opinião sobre os resistentes é a seguinte: estão apenas a defender a sua maneira de escrever que é filha de acordos ortográficos do passado! Não estão a defender nenhuma pureza etimológica, porque por esse caminho teriam que rever muita coisa na ortografia actual.

Chamo a atenção para o facto de que este artigo não ter sido escrito de acordo com a nova ortografia.

Veja as declarações da Maria do Carmo Vieira:

 

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