Sem rede
Escrever é sempre um risco. Ao contrário do dizer que se desevanece constantemente no fluir linear do discurso, a palavra escrita conquista a dimensão da superfície e torna para sempre, presentes, em simultâneo, o antes e o depois, o começo, o meio e o fim. Não deixará subterfúgios, nem escapatória para racionalizações, justificações ou acertos a posteriori. As premissas estarão ao lado das conclusões. As teses e posições defendidas poderão sempre ser reavaliadas, mas, uma vez escritas, tornadas públicas já não pertencerão mais ao autor. Pelo contrário, será ele que se tornará um pouco parte daquilo que escreveu, na medida em que aquele que escreve é apenas um elemento da identidade do texto. No mínimo será origem, no máximo, Escritor. Seja como for, cada risco que traça, será sempre um risco que corre em vários aspectos: o jurídico, o literário e o político, entre outros. Por tudo isso, parece-me que passarmos do oral ao escrito, é como abandonarmos o chão seguro do espaço oral, privado, para, como um trapezista sem rede, nos lançarmos no espaço vão onde a queda se adivinha a cada instante.