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Sem Rede

"Sobre aquilo de que não conseguimos falar, é melhor calarmo-nos." (Was sich überhaupt sagen lässt, lässt sich klar sagen; und wovon man nicht sprechen kann, darüber muss man schweigen) - Wittgenstein.

"Sobre aquilo de que não conseguimos falar, é melhor calarmo-nos." (Was sich überhaupt sagen lässt, lässt sich klar sagen; und wovon man nicht sprechen kann, darüber muss man schweigen) - Wittgenstein.

Sem Rede

15
Jun07

O caso da DREN

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O governo está a cometer um erro grave em não acabar de vez com o folhetim do professor Fernando Charrua e da DREN.  Tudo ali é ridículo e despropositado.  O dito professor é acusado de insulto ao primeiro-ministro por ter num restaurante desabafado "Estamos num país de bananas governados por um f. da p. de um primeiro-ministro".
Uma vez um aluno queixou-se-me de que um colega tinha ofendido a mãe com a referida expressão. Dei-lhe uma pequena lição de pragmática linguística para lhe explicar que a mãe nunca esteve em causa nessa expressão. O colega disse-lhe isso só porque estava furioso com alguma coisa que ele tinha feito - a mãe não tinha nada a ver com isso.
Sei por experiência que as pessoas quando se chamam "f. de p." em geral, fazem-no por se sentirem ofendidas, prejudicadas por alguém. A expressão não aponta para nada de específico na outra pessoa que não sejam factos como: tirarem-nos direitos que até aqui tínhamos como certos, como a expectativa da reforma para breve, a mudança de escalão na carreira tida como certa a breve trecho, os preços a subirem com o IVA e etc.
Discordâncias políticas num aceso debate num café ou num restaurante, com a língua solta, podem levar alguém habitualmente mais reservado a cair nesse tipo de linguagem que, para mim, é duma deselegância extrema e julgo que nunca utilizo.
A questão é a categoria que se deve atribuir à frase acima referida: é um caso de linguagem imprópria ou de insulto ao primeiro-ministro?
Penso que é do primeiro caso que se trata e não do segundo. Um insulto ou uma calúnia seria acusar ou insinuar maldosamente que o primeiro-ministro tinha feito algo condenável como desviar dinheiro, adquirir títulos académicos ilegalmente, ou o que quer que pusesse em causa a sua honorabilidade.
01
Jun07

Gramática generativa

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Penso que o fracasso da primeira tentativa de introdução da gramática generativa se deveu a vários motivos alheios ao valor científico e pedagógico da teoria propriamente dita que se tem afirmado como um dos principais paradigmas do estudo da linguagem no nosso tempo. Acho que a gramática generativa foi apropriada por teorias psicológicas e pedagógicas que se revelaram erradas. Paradoxalmente, uma dessas teorias era rival científica do generativismo e usava um étimo similar na sua designação - psicologia genética. Mas este adjectivo, como derivado de "genes" está mais adequado a Chomski do que a Piaget, que pretendia referir a origem das estruturas cognitivas noutras, anteriores.
A psicologia genética piagetiana redundou pedagogicamente em construtivismo, o movimento que nos diz que o que interessa é a experiência de aprender e de descobrir e não tanto o objecto dessa aprendizagem.
Reli recentemente as quinhentas páginas de Teorias da linguagem, teorias da aprendizagem 1 , o acalorado debate que decorreu entre Piaget e Chomski, em 1975, com partidários de um e doutro lado. Defensores de Piaget como Bärber Inhelder suavam para demonstrar que a linguagem era descoberta a partir das experiências da fase sensório-motora e encontravam o muro das lacónicas e claras posições dos adeptos das teorias generativas: há uma gramática que está em nós, uma faculdade da linguagem que nos permite descobrir a língua existente no nosso meio social, familiar. Não há lugar para a descoberta de uma qualquer génese da linguagem a partir de outra coisa qualquer (como a interacção com os objectos e com o meio).
A teoria generativa no ensino enfermou dos mesmos problemas do construtivismo pedagógico, em geral: eliminação de terminologias e definições a aprender e a decorar e centralização da aprendizagem na experimentação de frases, exactamente como em ciências da natureza se pretendia que o jovem utilizasse o método científico para descobrir o seu meio. Como isto falhava, precisamente porque as árvores de frase são um modo de representação e não um método de descoberta, os profesores, a maior parte dos quais não sabia o que era a gramática generativa, caía noutro erro: procurar no vocabulário da gramática generativa, os equivalentes dos termos da gramática dita tradicional. Assim, o sujeito, era o sintagma nominal, o predicado o sintagma verbal e, por aí adiante.
O que nos interessa é que a gramática generativa e várias outras teorias linguísticas e da filosofia da linguagem mostraram que vários conceitos gramaticais e maneiras de ensinar estão errados e que devem ser alterados.
No que respeita à sintaxe, por exemplo, como mostra Chomski em Syntatic Structures 2, o conceito de frase dominante anteriormente era o de uma cadeia, na qual se vão inserindo palavras. Chomski mostrou que tal conceito era erróneo e insuficiente para explicar como os falantes produzem frases, porque não dá conta da inserção programada de constituintes em pontos diferentes e em simultâneo na frase.
A mesma sequência de palavras pode corresponder a frases diferentes, como pode ver no seguinte exemplo. Imagine um anúncio dum programa da Antena 1: "Júlio Machado Vaz conversa sobre sexo com Alexandra Lencastre"
Como o verbo "conversar" é usado frequentemente com o sentido elíptico de "conversa com os espectadores", uma interpretação mais picante desta sequência poderia sugerir que o tema da conversa seria "sexo com Alexandra Lencastre", com a Alexandra ausente.

Uma interpretação mais austera seria uma conversa com a Alexandra como interlocutora:


A gramática que eu aprendi na escola não dá conta das diferentes integrações de um grupo de palavras na frase a concretizar diferenças de sentido.

1Lisboa, Edições 70, 1977.
2 Publicada pela primeira vez em 1957 (Paris, Mouton e The Hague)
3 O exemplo apresentado é uma adaptação de Pinker, Steven, The Language Instinct, London, Penguin, 1994, p. 103.

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