O eduquês no seu melhor
O eduquês não é bem um dialecto, porque atravessa várias línguas e, além do mais, tem uma série de proposições predefinidas. É, pois, mais uma espécie de discurso, do que uma gíria. É um pano de fundo, ao qual nenhum profissional da educação escapa. Mas aparece sob uma forma de linguagem técnica, por vezes inextricável para os comuns mortais que têm a infelicidade de ler textos dela oriundos.
No final dum artigo sobre os exames do 12º ano1, o Professor Carlos Fiolhais pede para descodificar o seguinte enigma:
"Os exames nacionais são instrumentos de avaliação sumativa externa no Ensino Secundário. Enquadram-se num processo que contribui para a certificação das aprendizagens e competências adquiridas pelos alunos e, paralelamente, revelam-se instrumentos de enorme valia para a regulação das práticas educativas, no sentido da garantia de uma melhoria sustentada das aprendizagens."
Resolvi, com a maior inocência, levar a sério o repto e enviei-lhe um email com a significação, tal qual Daniel perante o rei Nabucodonosor, a revelar-lhe os seus sonhos:
Penso que o enigma referido no seu artigo sobre o GAVE ("Errar muito é desumano") tem a seguinte solução:
- "instrumento de avaliação sumativa externa" - Os exames servem para medir as aprendizagens realizadas". "Sumativo" distingue-se de "formativo"; este respeita à avaliação durante um dado período de aprendizagem, aquele aos resultados, após o término do dito período, neste caso, "ensino secundário". É "externa" porque não é da responsabilidade do próprio professor.
- "enquadram-se num processo que contribui para a certificação das aprendizagens e (...)" - certifica as disciplinas em conjunto com as classificações dadas pelo professor.
- "instrumento" para a "regulação das práticas educativas" - informa os professores e os responsáveis pedagógicos aos mais diversos níveis sobre o desenvolvimento dos programas.
Se alguém encontrar erro na minha tradução, agradecia um comentário.
1"Errar muito é desumano", Público, 20 de Junho de 2008