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Sem Rede

"Sobre aquilo de que não conseguimos falar, é melhor calarmo-nos." (Was sich überhaupt sagen lässt, lässt sich klar sagen; und wovon man nicht sprechen kann, darüber muss man schweigen) - Wittgenstein.

"Sobre aquilo de que não conseguimos falar, é melhor calarmo-nos." (Was sich überhaupt sagen lässt, lässt sich klar sagen; und wovon man nicht sprechen kann, darüber muss man schweigen) - Wittgenstein.

Sem Rede

25
Mai09

Critérios sem critério nas provas de aferição

Redes

Cake prportion

Qual é a proporção?

(fonte: http://mob265.photobucket.com/albums/ii214/kokwaifun/IMG_2104.jpg)

 

Tal como centenas de outros professores, fui seleccionado para corrigir provas de aferição do 2º ciclo. O GAVE, o organismo que é responsável por exames e provas de aferição, coloca as orientações de correcção num documento público intitulado "critérios de classificação" (http://www.gave.min-edu.pt/np3content/?newsId=7&fileName=PA_LP_Criterios_de_Classificacao_2__Cicl.pdf).

Para além desse documento, são realizadas reuniões com os correctores nas várias unidades de aferição.

Como corrector, seria, supostamente, responsável pela classificação de um certo número de testes. Ora não é nada disso que acontece, pelos seguintes motivos:

  1. De acordo com a metodologia do GAVE, os correctores limitam-se a registar códigos que descrevem a tarefa ou resposta do aluno como totalmente certa, parcialmente certa ou errada.
  2. Os critérios de classificação publicados sofrem alterações de última hora, durante as reuniões nas unidades de aferição.
  3. O professor corrector regista os códigos numa folha de cálculo que não inclui nenhuma rotina que lhe permita saber o resultado final do teste.
  4. Essa parte é deixada para um núcleo de especialistas que a partir dos dados das grelhas de correcção decide a classificação de cada teste nas categorias A, B, C, D e E.

Esta metodologia merece-me os seguintes reparos:

  1. Os critérios publicados pelo GAVE não o são verdadeiramente, pois não explicitam as condições que permitem decidir a classificação de um dado teste.
  2. Ninguém fica a saber o peso de cada item dentro de cada domínio: leitura, escrita e conhecimento explícito da língua.
  3. Igualmente, ninguém sabe o peso que tem cada um dos grupos de questões na definição da classificação final (A, B, C, D, E).
  4. De acordo com o que sei de folhas de cálculo, parece-me que não há qualquer dificuldade técnica em disponibilizar numa folha ou num conjunto articulado de folhas de cálculo, a parte que permite chegar ao resultado final, quer sob a forma de médias ponderadas, quer sob a forma de condições.
  5. Ainda que a dificuldade técnica aconselhasse a não inclusão dessas rotinas na grelha de correcção, critérios e cotações deviam ser publicados para o grande público, já que as instruções para o professor corrector são-no.
  6. O facto de o não ser leva-me à conclusão de que esta reserva é intencional.
  7. Uma vez que não são publicados juntamente com o teste, o peso de cada questão e o peso de cada grupo no resultado final podem ser politicamente manipulados a posteriori, na busca de uma cotação que melhor sirva os interesses da tutela
  8. Quem faz um teste de aferição, interpreta o programa de língua portuguesa, onde o peso de cada domínio é explicitado. Escolhe questões ou tarefas para verificar o nível de compreensão da leitura, por exemplo. As questões não têm necessariamente o mesmo peso quer devido à informação que dão quer devido ao trabalho que exigem do estudante. Por isso, estabelecer a cotação de cada grupo de questões e a de cada questão é uma parte importante da elaboração do enunciado. É inaceitável que essa parte não venha a público ou seja deixada ao critério de outros espcialistas.

Finalmente, a título de exemplo, acrescento que nos testes nacionais ingleses, que também são provas de aferição, para o Key Stage 2 (6º ano, 11 anos), ao lado de cada questão aparece a sua cotação (mark), como informação relevante para o aluno. Estes testes têm normalmente 3 partes, e muito transparentemente, têm cotação total de 100.  Veja por exemplo a parte da compreensão da leitura do teste de 2007, que vale 50 dos 100 pontos. Clique Aqui para o teste. Para o texto, clique neste sítio).

Se a argumentação para não dar essa informação tem a ver com tecnologia, tenho que concluir que é um óptimo exemplo de como ela serve para tornar as coisas mais obscuras e para manipular o trabalho de profissionais competentes.

23
Mai09

O bafo de Deus

Redes

Quadro de Martin Schongauer (1445-1491)

 

(fonte: https://1.bp.blogspot.com/_Dwm0gUTYyWA/SRMdPf8WEhI/AAAAAAAAAe8/t1Cu12Q_C7I/s1600/martin-Anunciacao.jpg)

 

Na história da santa concepção, há certamente muito bafo. E muito bafio devia encher a gruta aonde se acolhera a santa família, de acordo com a tradição. Inevitavelmente, o bafo do burro e da vaquinha e o abafado ar da invernosa humidade circundante. Mas aqui importa sobretudo o bafo sagrado, protagonista duma acção que se vinha desenrolando de há nove meses atrás e que é assim relatada por Camões, na perífrase que põe na boca de Monçaide, na explicação que dá ao Catual sobre quem são os que chegam com Vasco da Gama:

Têm a lei dum Profeta, que gerado

Foi sem fazer na carne detrimento

Da mãe, tal que por bafo está aprovado

Do Deus, que tem do mundo o regimento. (Canto VII, 69)

O bafo é o mesmo sopro que serve, na etimologia, para fazer pff, mas também para produzir palavras, que não se conseguem sem a energia do ar em movimento.

Este bafo é pois o Espírito Santo, conforme aparece na narrativa original:

"Ora, o nascimento de Jesus Cristo foi assim: Estando Maria, sua mãe, desposada com José, antes de se ajuntarem, achou-se ter concebido do Espírito Santo". (Mateus 1:18)

Se Mateus só nos fala da concepção, Lucas, precede-a da anunciação, que pode ser mesmo o próprio acto de geração. É o anjo Gabriel que vai ter com Maria e lhe anuncia o nascimento do "filho do Altíssimo".

"Como se fará isto, visto que näo conheço homem algum?" - pergunta Maria.

"Descerá sobre ti o Espírito Santo, e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra; por isso também o Santo, que de ti há de nascer, será chamado Filho de Deus" - responde Gabriel (Lucas, 1:26-35).

O Espírito Santo é o mesmo bafo divino que aparece em inúmeros locais, nos livros bíblicos. É o ruah hebraico que anda sobre as águas no Génesis, é o pneuma grego e é o spiritus latino. O sopro antecede a palavra, origina a vida e dela se exala no silêncio do último suspiro. É um bafo ou uma corrente de palavras, que aparece em vários quadros quinhentistas a representar na Anunciação, um fluxo germinador, que procede do anjo para Maria.

É algo universal que transcende a nossa cultura ocidental. O sopro é vida, alma e espírito, nas culturas bantu, por exemplo. É pela boca que o mau espirito deve sair. Há deuses  que bafejam boa sorte, outros o contrário. O invisível, o vital,  apresentava-se sob a forma dum fluxo de ar.

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