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Sem Rede

"Sobre aquilo de que não conseguimos falar, é melhor calarmo-nos." (Was sich überhaupt sagen lässt, lässt sich klar sagen; und wovon man nicht sprechen kann, darüber muss man schweigen) - Wittgenstein.

"Sobre aquilo de que não conseguimos falar, é melhor calarmo-nos." (Was sich überhaupt sagen lässt, lässt sich klar sagen; und wovon man nicht sprechen kann, darüber muss man schweigen) - Wittgenstein.

Sem Rede

13
Dez10

Metas de aprendizagem - extensão e complexidade

Redes

Parece-me que há um problema com a extensão e repetição de fórmulas que afasta o utilizador das metas de aprendizagem. Constata-se logo, numa primeira observação, a enorme quantidade de itens e hierarquias entre as diversas metas. Pelo articulado, depreendo que tal profusão se deve à intenção de inserir nas metas todos os passos da aprendizagem. Acharia mais útil que esta  informação estivesse à parte como orientação metodológica aqui e nos próprios programas oficiais.

Exemplifico. Desenvolver a consciência fonológica é um passo essencial e também uma consequência da aprendizagem da leitura, como numerosos estudos - de que lembro alguns do professor Alexandre Castro Caldas - provam. Mas as metas de aprendizagem estão na consciência fonológica ou na leitura e na escrita?

A desgraça da leitura foi o desprezo pela fonologia nos métodos de aprendizagem idealizados nos anos sessenta pelo construtivismo, que se baseavam na ideia da descoberta da escrita, expressão de um estudo célebre desta área que é o de Ferreiro e Teberovski (ver FERREIRO, Emília e TEBEROVSKI, Ana. Psico-gênese da Língua Escrita. Porto Alegre: Artes. Médicas, 1986), em que o sentido e o contexto (o global) dominavam a aprendizagem inicial da leitura esquecendo que os nossos sistemas de escrita alfabética não se fundamentam essencialmente nisso.

O resultado era haver aprendentes que não conseguiam dar o salto da leitura de frases e palavras inteiras conhecidas para palavras novas ou pseudo-palavras. Enfim, não dominavam a técnica da decifração nesta arte milenar que remonta aos antigos fenícios.

A haver metas para a leitura no 2º e no 4º ano de escolaridade seria a descrição ,num pequeno trecho, do desempenho da leitura que se deve esperar no final desses anos e não todos os passos. Parece que se receia que o professor não trabalhe ambas as vias de acesso à escrita: as unidades distintivas (fonemas e grafemas) e as unidades significativas (palavras e frases).

Parece-me que esta obsessão de pôr a metodologia em tudo torna mais difícil a utilização das metas de aprendizagem.

Eis o articulado que referi:

    • Consciência Fonológica

        O aluno suprime, acrescenta ou troca sons (fonemas) numa das sílabas da palavra.

        O aluno reconstrói palavras por combinação de sons da fala (fonemas).

        O aluno segmenta fonemicamente qualquer palavra.

        O aluno conta os sons (fonemas) de cada sílaba das palavras.

        O aluno produz palavras e pseudo-palavras através da manipulação de sons da fala (fonemas).

        O aluno identifica mudanças nas sílabas ou nas palavras por substituição, supressão ou adição de um som da fala (fonema).

        O aluno identifica grupos consonânticos no interior da palavra.

        O aluno identifica grupos consonânticos em posição inicial de palavra.

        O aluno altera o acento da palavra gerando nova palavra ou pseudo-palavra.

        O aluno identifica a sílaba tónica.

        O aluno identifica as sílabas que estão antes e depois da sílaba tónica.

    • Reconhecimento e Escrita de Palavras e Letras

        O aluno ordena alfabeticamente palavras.

        O aluno identifica e escreve todas as letras maiúsculas e minúsculas do alfabeto.

        O aluno faz a correspondência som/grafema para todas as letras do alfabeto e todos os dígrafos.

        O aluno soletra (as letras de) palavras dissilábicas.

        O aluno reconhece globalmente palavras frequentes e menos frequentes.

        O aluno reconhece globalmente palavras frequentes.

        O aluno reconhece os grupos consonânticos mais frequentes do português.

        O aluno usa o conhecimento de sequências gráficas frequentes para ler palavras desconhecidas (e.g.: casa/casamento; lê/relê).

        O aluno usa a correspondência letra/som para ler palavras desconhecidas.

        O aluno usa o conhecimento das sílabas para decifrar palavras desconhecidas.

        O aluno escreve palavras e frases.

Não creio que um documento desta extensão possa ser considerado estanque. Acho que a prática deve conduzir à sua reformulação. Aqui fica posta a público esta observação de alguém que tenta honestamente utilizar as metas de aprendizagem.

13
Dez10

O ensino da história de acordo com o Miguel Real

Redes

Não resisto a citar o Miguel Real daquela entrevista (ver post anterior). É que com isto estou de acordo. Não há volta a dar-lhe. Ele tem toda a razão.

 

Não estou muito de acordo com a história ao vivo, aquela antiga metodologia de história em que para se perceber a Idade Média vamos fazer uma feira ali: um aluno veste-se de rei, outro de .....Eu penso que essa ideia foi um bocadinho ingénua, ingénua no sentido em que a história necessita primeiro de memorização, compreensão/memorização e depois de uma reflexão. Isso deve ser feito na sala de aula, pode ser feito com filmes, na história do século XX temos imensos filmes para isso, sobre a 2ª guerra mundial há filmes que nunca mais acabam e há filmes mesmo didácticos, sobre o Hitler, sobre a 2ª guerra mundial em geral. A história devia ser uma das disciplinas principais, mais até do que a literatura, para falar verdade; a história devia ser uma espécie de linha dorsal de um plano de culturalização do aluno, de consciencialização do seu lugar na história.

13
Dez10

A exigência

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(Copiado de http://blogamos.com/imagens/diploma.jpg)

Uma entrevista do Miguel Real à RBE deu-me a pensar neste velho palavrão. Ele declarou que o fim do exame de  Filosofia tinha sido uma machadada no ensino desta disciplina.

Era comum perguntar-se se o novo professor era exigente ou não. A pergunta fazia-se tanto pela positiva como pela negativa. O professor que não era exigente era um mãos largas a dar notas, muito compreensivo, achava que o mais importante era a relação com os alunos e não o programa que lhe era imposto cumprir. O professor exigente dá muitas negativas e faz testes difíceis. Depois, há o professor que assevera que é exigente, mas compreensivo, faz o equilíbrio dos dois mundos. Empatia, relação pedagógica, qualidade de ensino e de aprendizagens tudo num caldo psicológico e ideológico inextrincável.

O outro lado desta confusão de apreciações é o discurso técnico-pedagógico e didáctico muito influenciado por áreas de conhecimento que se pretendem científicas como a psicologia e a sociologia que fala de uma maneira totalmente diferente, mas que acaba muitas vezes na mesma coisa. Aí entram os conceitos que alguns designam de "eduquês": processo de ensino-aprendizagem, competências, objectivos, conteúdos, metas de aprendizagem, desempenho, etc.

Quando sentimos que o chão nos falta, que já não há nada por detrás das palavras que usamos, sentimos necessidade de tomar o pulso às coisas e perguntar simplesmente "será que os alunos sabem ou não sabem a matéria"? Os professores "dão ou não dão a matéria?". Isto é, fugimos do "eduquês" para simplesmente podermos conversar.

O discurso de Miguel Real está longe do "eduquês", mas tem o rigor simples de quem sabe pensar sem necessitar de calão técnico.

Não que concorde inteiramente com ele em todos os aspectos referidos na entrevista. Faz uma distinção absoluta entre literatura e outros tipos de textos, identificando a escola com a primeira e relegando os outros para a categoria do que não é escolarizável. Ora parece-me que há géneros essenciais à vida quotidiana que ganham em ser aprendidos na escola, tanto do ponto de vista da compreensão como da expressão. E há algo que se sabe há já bastante tempo: a expressão não é o correlato simétrico da compreensão. Por exemplo, um bom leitor não é necessariamente um bom escritor. Nem o convívio com a literatura garante o sucesso com géneros necessários ao dia a dia, quando o indivíduo tiver mesmo que escrever textos não literários.

Mas esta distinção é a mesma que Miguel Real faz entre o engenheiro e o electricista, relegando este para o que não é escolarizável. Ora, precisamos cada vez mais que seja a escola a fazer electricistas que saibam um pouco de electricidade e que não aprendam o seu ofício só através da prática manual.

Isso é a conclusão necessária do facto de hoje termos toda a gente na escola e nem todos os que querem poderem realmente tornar-se engenheiros de electrotecnia. Esses electricistas estarão durante mais tempo a aprender português e língua estrangeira, entre muitas outras matérias. Se a escola não quer excluir tem de procurar caminhos diversificados que dêm para todos se desenvolverem, sem a pretensão de que todos, no mesmo número de anos, aprendam a mesma coisa.

Veja aqui a entrevista de Miguel Real: Miguel Real à RBE.

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