O jogo deles
Todos o compreendem se se dispuserem a pensar um pouco. António José Seguro não pode embarcar nessa do consenso porque tem de se diferenciar de Passos Coelho nem que seja só pela cor da gravata. A demonstração que faz da alternativa é apenas a de gritar emocionalmente contra os que dizem que ela não existe. O que é que vai fazer de diferente agora que o governo também fala em crescimento?
Por exemplo, não nos explicou a diferença entre "rigor orçamental" e "austeridade". Será que a sua irritação justifica-se por o governo estar a roubar-lhe a agenda? Verdadeiramente, ninguém quer que o PS vá nessa do consenso ou numa de bloco central, mas têm que fingir que é isso que querem. O presidente que o diga, pois roubou o poder ao PS rompendo com o bloco central em 1985. Com um bloco central politicamente desnecessário, já que há uma maioria parlamentar, as ruas ficariam a pertencer ao PCP, ao BE e a outros que ganhariam espaço para aparecer. A esquerda da rutura com o FMI e com a Europa ganharia mais força. E eles não querem isso.
O presidente tem razão: nem sempre há alternativas em democracia. O PCP e o BE não se cansam de o dizer: para eles, não há diferença entre governos do PS e do PSD. Só se escandalizam por ser o presidente a dizê-lo. Já vimos esse filme. Ou não se recordam do discurso de Passos Coelho quando estava na oposição contra o Pack 4 da austeridade do PS? Pois recordem-se, ele falava do desemprego insuportável, da falta de crescimento, da carga fiscal sobre as empresas, etc. Enfim, tudo o que Seguro diz agora. O PSD protagonizou uma mudança política desnecessária, não foi uma alternativa, mas apenas mais do mesmo. Talvez o mesmo ao quadrado.
Se interrompêssemos agora esta maioria parlamentar, o que iria Seguro fazer? Supor que teria maioria absoluta, já seria arriscado. Mesmo, nesse caso, já podemos adivinhar o "preview": as reuniões com Hollande, com Merkel e com o Eurogrupo a confirmar a necessidade de continuar com o "rigor orçamental". Ou assumiria uma agenda de rutura com a Troika?
É por isso que estou convencido que eles estão a distrair-nos do essencial num jogo em que ninguém diz o que quer e em que ninguém quer o que diz.
O meu voto é no PS evidentemente.