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Sem Rede

"Sobre aquilo de que não conseguimos falar, é melhor calarmo-nos." (Was sich überhaupt sagen lässt, lässt sich klar sagen; und wovon man nicht sprechen kann, darüber muss man schweigen) - Wittgenstein.

"Sobre aquilo de que não conseguimos falar, é melhor calarmo-nos." (Was sich überhaupt sagen lässt, lässt sich klar sagen; und wovon man nicht sprechen kann, darüber muss man schweigen) - Wittgenstein.

Sem Rede

27
Abr13

O jogo deles

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Todos o compreendem se se dispuserem a pensar um pouco. António José Seguro não pode embarcar nessa do consenso porque tem de se diferenciar de Passos Coelho nem que seja só pela cor da gravata. A demonstração que faz da alternativa é apenas a de gritar emocionalmente contra os que dizem que ela não existe. O que é que vai fazer de diferente agora que o governo também fala em crescimento?

Por exemplo, não nos explicou a diferença entre "rigor orçamental" e "austeridade". Será que a sua irritação justifica-se por o governo estar a roubar-lhe a agenda? Verdadeiramente, ninguém quer que o PS vá nessa do consenso ou numa de bloco central, mas têm que fingir que é isso que querem. O presidente que o diga, pois roubou o poder ao PS rompendo com o bloco central em 1985. Com um bloco central politicamente desnecessário, já que há uma maioria parlamentar, as ruas ficariam a pertencer ao PCP, ao BE e a outros que ganhariam espaço para aparecer. A esquerda da rutura com o FMI e com a Europa ganharia mais força. E eles não querem isso.

O presidente tem razão: nem sempre há alternativas em democracia. O PCP e o BE não se cansam de o dizer: para eles, não há diferença entre governos do PS e do PSD. Só se escandalizam por ser o presidente a dizê-lo. Já vimos esse filme. Ou não se recordam do discurso de Passos Coelho quando estava na oposição contra o Pack 4 da austeridade do PS? Pois recordem-se, ele falava do desemprego insuportável, da falta de crescimento, da carga fiscal sobre as empresas, etc. Enfim, tudo o que Seguro diz agora. O PSD protagonizou uma mudança política desnecessária, não foi uma alternativa, mas apenas mais do mesmo. Talvez o mesmo ao quadrado.

Se interrompêssemos agora esta maioria parlamentar, o que iria Seguro fazer? Supor que teria maioria absoluta, já seria arriscado. Mesmo, nesse caso, já podemos adivinhar o "preview": as reuniões com Hollande, com Merkel e com o Eurogrupo a confirmar a necessidade de continuar com o "rigor orçamental". Ou assumiria uma agenda de rutura com a Troika?

É por isso que estou convencido que eles estão a distrair-nos do essencial num jogo em que ninguém diz o que quer e em que ninguém quer o que diz.

O meu voto é no PS evidentemente.

22
Abr13

Acarinhar a depressão

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Paul Krugman, ainda na sequência da falência teórica da linha vermelha dos 90% do PIB em dívida, vem neste artigo criticar o excessivo receio de endividamento público nos Estados Unidos da América.

Para evitar o aumento da dívida, não há política dirigida ao desemprego de longa duração. Esta classe de desempregados vê a sua situação piorar e o seu número a aumentar.

Lembra que os governos estão a fazer é o contrário do que as regras de boa governação ditam que consiste em não cortar na despesa pública durante a depressão.

Recordo aos leitores que a dívida pública americana, segundo o FMI, está já nessa linha (perto dos 100% do PIB) - veja The Jobless Trap no New York Times e List of countries by public debt.

17
Abr13

Paradigmas pedagógicos

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Na pós-modernidade pedagógica, parece que tudo o que é considerado vanguarda constitui um todo coerente.

Por exemplo, em vários países europeus, houve uma reformulação dos programas com base na ideia de "competência". As competências vieram substituir as tabelas de objetivos e conteúdos programáticos.

A novidade é recebida pela vanguarda pedagógica como se este novo elemento fosse coerente com os outros paradigmas, ainda dominantes.

Um  deles é o chamado construtivismo, a ideia de que a aprendizagem tem como sujeito o indivíduo que na sua relação com o meio vai construindo esquemas da realidade, que, na versão piagetiana, passam por uma série de estádios de ordem lógica e epistemológica que se presume serem universais na espécie humana. Esta ideia era considerada coerente com a teoria chomskyana da linguagem, dominante também no ensino da língua materna. 

No entanto, no final da década de 70, vimos um debate rigoroso entre os partidários da teoria construtivista da aprendizagem e os inatistas, que mostou quão profundas eram as divergências entre as duas conceções. Para mim, que li atentamente a discussão havida entre Chomsky, Katz e Fodor por um lado e Piaget, Inhelder e outros, pelo outro, os primeiros arrasavam completamente o construtivismo, sem que aos segundos acudissem argumentos sólidos em sua defesa.

Não quero entrar aqui em pormenores, mas a aprendizagem da linguagem não se faz de maneira alguma através da interação sensório-motriz, nem a aprendizagem do conceito de número se faz da maneira como Piaget propõe. O que acontece é que a nossa espécie tem inscrita no seu genoma algo que nos permite desenvolver o conceito de número. O mesmo acontece com a linguagem. Existe uma faculdade da linguagem na nossa espécie que nos permite criar e adquirir línguas específicas. A interação social é essencial ao desenvolvimento linguístico, mas não menos necessária é também essa predisposição genética.

A ideia de que é a criança que descobre tudo e que não é positivo ensinar diretamente a criança e treiná-la num certo tipo de raciocínio ou algoritmo que ela tem de descobrir e aprender, primeiro, tem como efeito inibir o professor de ensinar e torna-o numa espécie de orientador dum processo que está a acontecer, que ele estimula, mas para o qual não adianta explicitamente conteúdos que espera que o jovem descubra. Isto torna a aprendizagem desnecessariamente demorada. Em vez de perguntar ao professor, o aluno pode ir diretamente a outras fontes que ensinam direta e explicitamente o que ele quer. Em todo o caso, não é ele que descobre ou "constrói". Ele raciocina de acordo com modelos que a cultura humana desenvolveu historicamente. Pode aprender a lógica da investigação científica, mas não a pode descobrir; ou, pelo menos, não é expetável que a generalidade dos seres humanos a descubra por si.

O que é que a ideia de "competência" tem a ver com o "construtivismo"? Creio que ela é mesmo contrária ao construtivismo, pois, como aquela noção vem para o desenvolvimento curricular através de sociólogos da educação preocupados com a desigualdade dos resultados escolares e com a inutilidade da escola para quem não quer ou não pode seguir estudos, o "construtivismo" é uma abordagem que ainda atrasa mais o domínio de competências para a vida.

Se utilizarmos o critério da "competência" para definir um currículo, iremos pôr de lado os conhecimentos que não conseguimos relacionar com nenhuma competência visível. Faremos, pois, um programa mais rasteiro, menos exigente. Que é que isto tem a ver com "construtivismo"? Nada. Não será mais útil um perspetiva comportamentalista dirigida para o treino de procedimentos e a memorização de conteúdos que sabemos úteis para a vida?

Por isso, parece-me evidente que temos um cocktail de propostas teóricas contraditórias nas ideias dominantes na educação.

07
Abr13

Que Europa?

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(artsonline.monash.edu.au)

 

A Europa é um estado de direito, pois é regido por leis e nenhum cidadão europeu está acima delas, mas não é um estado democrático. É, antes, uma oligarquia em que são os estados mais poderosos e mais ricos que mandam.

Ao mercado comum, foram acrescentadas competências políticas que os estados-membros se viram obrigados a ceder. Quem as exerce, no plano executivo, é, de facto, um diretório escolhido pelos estados mais poderosos, quer dizer, pelos chefes desses governos nacionais. A união monetária veio agravar ainda mais esta amputação ao poder democrático dos estados membros.

Para que a Europa seja um estado democrático, é preciso que o parlamento europeu tenha um verdadeiro poder legislativo e que a comissão dependa dele como aconece com qualquer governo nacional. O partido europeu que ganhar as eleições deve formar um executivo que não pode surgir de negociações mais ou menos secretas entre chefes de estado nacionais. Tem de haver um orçamento europeu e uma política orçamental coerente. A relação entre este orçamento e os orçamentos nacionais tem que ser esclarecida por regras claras e não ficar ao critério deste ou daquele governo nacional. Aqui entra a possibilidade dos "euro-bonds".

A evolução neste sentido é impedida pelo fantasma da anulação da identidade nacional. Supostamente, num plano democrático, Portugal ficaria com um peso diminuto, perante os outros estados. Creio que este argumento só tem interesse para as elites políticas e financeiras nacionais, isto é, para aqueles que estão sempre bem, haja crise ou não. Algumas destas elites cheiram a "egrégios avós", de tão caquéticas parecerem.

Num plano democrático, o voto de um cidadão europeu português vale o mesmo que o de um alemão. Prefiro uma Europa de cidadãos a uma Europa de estados. Não quero de maneira nenhuma uma Europa dos povos, como Marine Le Pen, à direita, e outros, à esquerda, proclamam. Uma vez definidos os limites do estado europeu e salvaguardadas as competências de política cultural e linguística dos estados-membros, o que temos de fazer é avançar no sentido de uma verdadeira federação ou então acabar de vez com a ilusão da união europeia.

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