O rapaz, o lobo, a ovelha e a alface - um enigma e um algoritmo
Conhecem decerto o enigma do rapaz, do lobo, da ovelha e da alface... O rapaz tinha de levar os três de uma margem para a outra dum rio num pequeno bote onde só cabia ele e um dos elementos da carga.
Se levasse o lobo, a ovelha poderia comer a alface; se levasse a alface, seria a ovelha a ser comida pelo lobo. Teria que levar a ovelha, é claro. Mas, depois, na segunda viagem, não poderia levar nem o lobo nem a alface... Tudo se resolve se levar o lobo e, no regresso, trazer a ovelha. Assim, na terceira viagem já pode levar a alface para ao pé do lobo e deixar a ovelha à espera, sozinha. Na quarta viagem, vai de novo tranquilamente a ovelha.
O enigma tem muitas dificuldades que podemos considerar impertinentes face ao problema que se quer resolver. Por exemplo, como pode uma alface ocupar o mesmo espaço dum lobo ou duma ovelha? Porque transportaria o rapaz um lobo?
A estas impertinências, dedica-se Allan Allberg no livro, que tem o título do enigma. Li-o até ao capítulo II onde ele conta a versão do rapaz na qual continua a haver lobo, ovelha e alface, mas deixa de haver enigma.
Quando falei do enigma ao Pedro, um rapaz que tem catorze anos e é aluno de Matemática dum amigo meu, ele disse-me logo:
- Esse enigma é uma história muito mal contada. Como é que uma alface tão pequenina pode constituir um problema de transporte? O caso é que ela é uma rapariga da minha turma que tem a mania de se vestir muitas vezes de verde-alface. É por isso que nós lhe chamamos Alface. A Ovelha também é da minha turma. Chamamos-lhe assim porque ela está sempre a lamentar-se como se fosse uma ovelha a balir. E o Lobo? É o meu amigo António que é Lobo de apelido.
Fiquei chocado. Ainda lhe chamei a atenção:
- Ouve lá. Este enigma é muito antigo...
Mas ele nem ligou e continuou:
- Eu vou contar-lhe a história, mas promete não contar aos meus pais, ok? Bem, é que isso aconteceu numa noite em que disse à minha mãe que ia ficar a dormir na casa do Lobo para estudarmos para o teste de Matemática. Além de fazermos isso, fomos à discoteca. E aqui está a parte mais secreta. É que a discoteca fica a dez quilómetros da minha casa. Tive que utilizar a mota do meu pai que estava em repouso na garagem. Como ele andava em viagem de trabalho, nem deu por isso. Fui de mota para casa do Lobo e elas, mais tarde, vieram ter connosco. Tinha que levar um de cada vez. Ainda estava a arrancar com o Lobo, quando a Alface e a Ovelha começaram uma violenta discussão. O Lobo exclamou logo:
- É pá! Estas miúdas vão nos estragar a festa! Leva a Ovelha, primeiro, se eu fico sozinho com ela, é um desastre.
O Lobo tinha namorado com a Ovelha, mas tinha-a deixado e, agora, andava com a Alface. A Ovelha era muito ciumenta e não suportava ter sido substituída.
Levei a Ovelha, muito contrariada, a olhar para trás, para o Lobo e a Alface, agarradinhos um ao outro. Na segunda viagem, levei a Alface e vi logo que não podia deixá-la junto da Ovelha, à porta da discoteca. De maneira, que trouxe esta de volta. Deixei-a em casa do Lobo e levei este para ao pé da Alface. Depois, na quarta viagem, levei de novo a Ovelha.
- E no regresso? - perguntei eu.
- Bem, no regresso já não houve problema nenhum. A Ovelha contou-me por que razão se comportava assim com o Lobo e com a Alface. Agora compreendo-a melhor. E ela nem é nada assim de estar sempre a lamentar-se como dizem lá na turma... Pois, é que, agora, ela namora comigo!
Um dia, contei resumidamente, esta versão do enigma ao meu amigo que é professor de Matemática, sem me referir ao Pedro. Ele interrompeu-me:
- É a história que o Pedro contou na aula a seguir ao teste que foi dedicada a enigmas. Todos se riram muito, pois há lá mesmo um lobo, uma ovelha e uma alface.