Ser ou não ser Fidel
Daniel Oliveira expôs as razões dos que se acham à esquerda e se afirmam democratas acima de tudo em "Porque continuo anti-castrista" no Expresso diário de sábado, 3/12/2016. De facto, esta é uma das dificuldades de quem andou por caminhos vizinhos dos do líder cubano, mas não o sente como parte da sua herança ideológica.
Primeiro, há que dizê-lo sem medo das palavras: Fidel era um ditador e, nessa qualidade, a sua silhueta ombreia com as de todos os que pululam à sua direita ou à sua esquerda. Não há mais nada a dizer a este respeito: somos contra déspotas. Não nos venham com a especificidade cubana, o bloqueio, ou o que quer que seja.
Comentário: Não posso deixar de lamentar os que na América Latina ou nas résteas de partidos comunistas europeus de ortodoxia soviética que ainda há por aí que, ao mesmo tempo que fazem o jogo democrático nos seus países, se afirmam amigos do regime cubano e de outros do mesmo género.
Segundo, a ditadura de Castro, assim como a de Salazar, para referir uma de esquerda e outra de direita, não têm comparação possível no que respeita a barbárie e violência com a ditadura de Staline ou a de Hitler, para referir também uma da esquerda e outra da direita.
Terceiro, não podemos ignorar os sucessos sociais na educação, na saúde e na segurança social conseguidos pelo regime cubano, mas temos que os colocar no seu devido contexto: resultam de uma ideologia socialista aplicada por um regime autoritário. Temos também que mostrar os seus limites: falta de iniciativa económica individual, de inovação tecnológica, de criação artística e de estímulo para impulsionar carreiras profissionais, dificuldades que conduziram à emigração maciça de centenas de milhar de cubanos para os Estados Unidos.
Posto isto, nós de esquerda e democratas, temos que nos solidarizar com todos os cubanos, de direita e de esquerda, que se posicionam contra o regime por se sentirem oprimidos, com direitos humanos cerceados, e por não poderem participar na política cubana com as suas ideias e iniciativas próprias.
No mesmo tom, mas mais direto e com maiores razões para exprimir a sua perspetiva, está o bloguista brasileiro Bertone de Sousa que em "Notas sobre a morte de Fidel" chama a atenção para o culto castrista dos políticos do Partido dos Trabalhadores e congéneres.