Debate sobre o ensino da gramática em França: objeções equívocas
Há grandes mudanças a ocorrer no ensino em França. Aos pequenos ajustamentos no ensino da gramática, há vozes críticas que me parecem pouco autorizadas.
Ao lê-las, ficamos com a impressão de que o COD (complemento de objeto direto) e o COI (complemento de objeto indireto) eram, antes, ensinados sem a noção de predicado.
E se for mesmo esse o caso, acho que está errado.
Além disso, dá vontade de dizer: lá como cá! Como vão os pais poder ajudar os filhos?
Ao mesmo tempo que se critica o "nivelamento por baixo", objeta-se à dificuldade dos pais em compreenderem a substituição do complemento circunstancial por complemento de frase.
Entre nós, o problema foi resolvido com a distinção entre modificadores e complementos, por um lado, e com a introdução do complemento oblíquo, por outro, dando assim conta dos casos em que o grupo de palavras é selecionado pelo verbo e daqueles em que é facultativo.
Vejam por favor este título:
Réforme de la grammaire : polémique sur le prédicat, qui remplace COD et COI.
Lá como cá, pois claro, como um bloquista o expressa:
"Le "prédicat" semble être le nouveau prétexte choisi par les opposants à toutes les réformes - je les appelle génériquement: les "anti-tout" - pour alimenter une polémique dont seul ce pays a le secret."
Christophe Chartreux, no seu blogue, "Le prédicat?... Une nouveauté?... Diable!...", in Vivement l'Ecole!
Eu preferia que o "complément de phrase" fosse considerado parte do predicado e não me parece boa esta definição:
"Le prédicat est constitué de tous les mots qui n’appartiennent ni au groupe sujet ni au(x) groupe(s) complément(s) de phrase. C’est le groupe construit autour du verbe principal d’une phrase. Il contient donc le verbe principal et tous les éléments qui en dépendent." [destaques meus]
O predicado aqui é constituído apenas pelos elementos selecionados pelo verbo. Isso tem provavelmente relação com o forte pendor funcionalista do ensino da gramática em França (talvez a escola de André Martinet ainda vigore por lá) que diverge da nossa orientação em que domina uma perspetiva globalizante da frase que considera a adjunção de elementos na frase em termos de relação mais forte entre núcleo ("head", em inglês) e complementos ou mais fraca com modificadores de "head".
No exemplo dado por Christoff
"[Dans la foret], [le chien de Leo] [porsuit un Lapin]",
"dans la foret" é complemento de frase e não faz parte do predicado que é "porsuit un Lapin". Ora, sem me alongar muito, nós podemos mostrar que há uma ligação ao verbo que é o núcleo da frase, embora não seja a mesma que tem "un lapin".
Modificando a frase, acrescentando-lhe um elemento, verificamos isso:
"Curieusement, le chien de Léo porsuit un lapin dans la forêt"
"Curieusement" não responde a nenhuma indagação feita ao verbo. Agora, em Português para simplificar, nem a pergunta
"É curiosamente que o cão de Léo persegue um coelho na floresta?"
nem a negação
"Não é curiosamente que o cão de Léo persegue um coelho na floresta"
fazem sentido.
Se fizermos o mesmo teste com "dans la foret" obtemos a prova de que este grupo se integra no "predicado":
"É na floresta que o cão de Léo persegue um coelho?"
"Não é na floresta que o cão de Léo persegue um coelho"
Será a introdução da noção de predicado um sinal de mudança da França para o sentido em que nós já há alguns anos navegamos?