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Sem Rede

"Sobre aquilo de que não conseguimos falar, é melhor calarmo-nos." (Was sich überhaupt sagen lässt, lässt sich klar sagen; und wovon man nicht sprechen kann, darüber muss man schweigen) - Wittgenstein.

"Sobre aquilo de que não conseguimos falar, é melhor calarmo-nos." (Was sich überhaupt sagen lässt, lässt sich klar sagen; und wovon man nicht sprechen kann, darüber muss man schweigen) - Wittgenstein.

Sem Rede

18
Abr09

Da coisa administrativa e da que ministra

Redes

A designação de "comissão administrativa", seja provisória, seja permanente, remete-nos para o paradigma dos nomes de quem manda na escola: reitor, director, conselho directivo, conselho executivo são, a este respeito, sinónimos.

Todas as coisas são iguais, excepção feita às diferenças. Se atendermos a estas, verificamos que o poder pode ser exercido por uma ou por várias pessoas, numa subordinação directa ao poder central ou numa maior autonomia, com orientações próprias ou apenas na aplicação duma direcção alheia. Ainda por cima, tudo isto, não como oposições binárias absolutas, mas sim como gradações diversas.

E os termos que designam estas diferenças estão longe de ter uma distinção lexical homóloga. Como se não nos bastasse reger, dirigir e executar, temos agora administrar. E, em vez dum conselho, uma comissão!

O adjectivo "administrativo" ganhou a conotação de coisa auxiliar. Assim, temos os serviços administrativos da escola que tratam do aspecto legal das coisas, de fazer chegar em devida forma a informação a quem decide, o conselho executivo. Do mesmo modo, na política, temos os ministros, eleitos e os funcionários administrativos de carreira que lá sempre estão. O programa "Sim, senhor primeiro-ministro" trata precisamente da oposição entre a função administrativa e a política, mostrando como uma corrompe a outra, como as contingências administrativas transformam em letra morta os programas eleitorais do partido no poder.

Há é claro, ocorrências em que a palavra "administração" ganha um sentido maior, como é o caso da Administração Obama, onde, além do Presidente, só há secretários. Também no Reino Unido, em termos vocabulares, temos um primeiro-ministro e mais nenhum, pois os outros membros do gabinete são secretários. Na verdade, são todos ministros, pois, de outro modo, não poderia haver um primeiro. Há apenas três "secretaries" (Justice, Foreign e Home) e um "chancellor" à volta de Gordon Brown, constituindo o "Cabinet".

Aquilo a que chamamos ministérios, são, na Inglaterra, os "departments" que constituem o "Her Majesty Civil Service". Por exemplo, a educação está integrada no "Department for Children, Schools and Families". O Secretário de Estado deste Departamento, actualmente, Ed Balls, tem sob a sua alçada outros dois "ministers", um que se encarrega das escolas e outro dos assuntos da infância e da família. Ora, Ed Balls tem que aturar um chefe não político do departamento, actualmente, David Bell, que é o seu "sim, senhor ministro".

Está aqui patente a distinção entre o "administrative management" e as tarefas ministeriais. "Minister" em inglês, ou "ministro" em português, opõe-se pois a "administrativo". Poderíamos especular sobre a diferença que o prefixo ad- faz na palavra, contudo, tal jogo, já se fazia no latim em que "minister" é qualquer pessoa que ajuda ou serve e "administer" é mais específico, significando operário, ajudante ou administrador. Os termos derivados do latim "minister" continuaram a ser usados sinonimamente em paralelo com os que derivam do "administer": ministrar, administrar, ministrador, administrador, etc., mas o uso do termo "administrativo" tem uma influência do francês "administratif" e do inglês "administrative". E já sobra de etimologia neste post.

Gostaria de realçar a nobreza do termo "ministro" e "ministrar" pela sua ligação directa com a pedagogia, com as seguintes citações bíblicas:

"Bendizei ao SENHOR, todos os seus exércitos, vós ministros seus, que executais o seu beneplácito". (Salmos 103: 21)
"Porque convosco falo, gentios, que, enquanto for apóstolo dos gentios, exalto o meu ministério" (Romanos 11: 13)
"Se é ministério, seja em ministrar; se é ensinar, haja dedicaçäo ao ensino" (Romanos, 12: 7)

Ministro, ministério e ministrar remete para a noção de serviço e de missão. Por isso, aquele que ministra aproxima-se o mais possível das pessoas.

Pelo contrário, o administrador, ou administrativo preocupa-se mais com as coisas do que com as pessoas, põe entre si e os administrados, o maior número possível de intermediações, papéis, procedimentos que afastam o contacto directo.

Tínhamos um conselho executivo que conhecia pessoalmente todos os alunos e professores da escola. Cumpria a lei e as orientações, a direcção, de uma assembleia geral. Tinha o conhecimento do mester pedagógico, pois convivia diariamente com ele.

No seu dia a dia, o conselho executivo não parava no seu ministério de coordenar e apoiar os esforços de todos os profissionais da escola. As audiências eram da ordem das dezenas ou mesmo centenas por dia, numa apreciação impressionista pelo conjunto de movimentos que se viam à porta. De repente, temos uma comissão ad-ministrativa, sem ministério, apenas com procedimentos, justificações, papéis, uma porta fechada, um deserto de pessoas à porta. Onde estão os carentes de uma conversa, ou uma palmada encorajante nas costas, os alunos difíceis que iam ter uma conversa com uma pessoa do conselho executivo? No final do ano lectivo, quando os problemas ameaçam agravar-se, nada! O vazio!

 

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