Vendavais esfumados
No romance Um jantar a mais de Ismail Kadaré (Quetzal, 2002), a propósito de um escândalo sexual, aparece a seguinte notável comparação:
"E assim como um vendaval, que deixa a rodopiar atrás de si alguns destroços, também sobre esse assunto apenas algumas palavras equívocas pairavam ainda no ar, tornando-se cada vez mais raras" (p. 66)
Na história, ao fim e ao cabo, só há vendavais. Alguns deles, contudo, demoram muito tempo a esfumar-se. Quando isso acontece, aqueles que se acham no centro do furacão sofrem uma grande deceção. Descobrem que não se encontram em nenhuma charneira da história, apenas em algo que se esfuma sem justificar nem os sacrifícios nem os riscos consentidos. Apenas um balão que se vai esvaziando, ao ponto de, muito pouco tempo depois, quase ninguém se lembrar do acontecido, nem da perspetiva que justificava a ação, o denodo e a combatividade do tempo vivido.