Da escola e das comunidades de aprendizagem.
A leitura de uma apresentação feita por José Luís Almeida sobre o futuro da escola, motivou-me os seguintes comentários que não são argumentação contra as teses apresentadas, mas simplesmente, uma expressão da minha opinião sobre os tópicos apresentados. Basicamente, defendo que a escola não irá operar uma mudança de 180º, isto é, nada justifica uma revolução pedagógica atualmente, embora a escola se modernize e adeque aos novos recursos e modos de vida representados pela revolução digital, eletrónica e virtual.
1. A dificuldade de acesso a recursos de aprendizagem tem a ver apenas com o lugar e o tempo, já que há uma enorme quantidade de recursos didáticos, científicos, culturais, técnicos (do género “How to do”) e informativos de acesso praticamente gratuito, seja para aprender línguas, a cozinhar, a programar computadores, redes e telemóveis. Para estudar e ler sobre quase todos os tópicos culturais e científicos, a quantidade de informação, de redes e de fóruns de comunidades online é gigantesca.
Desde a década de 70, que se fala na “lifelong education” – educação ao longo da vida . As novas tecnologias apenas tornam mais efetiva a possibilidade de as pessoas se auto-formarem.
2. Embora haja competências ditas transversais que o ensino escolar tradicional tem descurado, tem-se verificado a confirmação da importância e valor das competências escolares tradicionais que constituem a chave de acesso, o mapa do conhecimento humano que permite às pessoas se desenvolverem. Falamos de leitura, escrita, língua estrangeira, história e geografia (do seu país e do mundo), trabalho com números e padrões (aritmética e matemática). Além disso, a escola desenvolve competências expressivas, artísticas e físicas. Desenvolve também conhecimento científico e tecnológico.
3. Além disso, tem sido contestada ultimamente a tese de que se podem aprender técnicas de aprendizagem num vazio de conteúdos. Isto é, já não podemos dizer que o que se aprende pouco importa, o que interessa é “aprender a aprender”. Muito pelo contrário, as técnicas do aprender só fazem sentido em objetos de aprendizagem. De fato, conseguimos aprender mais porque já temos um mapa, uma base, que podemos completar e desenvolver, seja em que domínio que for. Muitas das competências tradicionais escolares são mesmo meios de acesso ao conhecimento, nomeadamente, a leitura, a escrita, as línguas e a matemática.
4. Com a rádio e a televisão criaram-se também ilusões a respeito da possibilidade de os professores serem dispensáveis, pois os conteúdos de aprendizagem poderiam ser difundidos. Verificou-se que os meios audiovisuais de ensino, não obstante experiências interessantes como a telescola, não se tornaram a regra e a escola tradicional manteve-se de pedra e cal.
5. Os conteúdos sempre estiveram acessíveis em bibliotecas públicas, em programas gravados e em diretos da rádio e da televisão, agora em formatos interativos e multimédia online, mas a sua aprendizagem nunca dispensou a mediação dos professores. A escola cria o ambiente necessário a que o indivíduo se interesse, se forme e se informe, que crie os hábitos e a disciplina que tornam possíveis essas aprendizagens. Para os adultos, são necessárias também comunidades que deem sentido ao estudo, ao treino e ao exercício. Nessas comunidades tem de haver mediadores, formadores ou professores que têm a autoridade necessária para orientar o trabalho de aprender, premiar o esforço e certificar resultados.
6. A escola já é uma comunidade de aprendizagem, mesmo na sua aceção mais tradicional. Não tenho a menor dúvida de que a escola deve utilizar da forma mais produtiva possível todos os recursos que a internet e as novas tecnologias permitem, mas não deve fugir da sua tarefa nuclear.