Imagens do 2666 (I)
É o livro que me acompanha atualmente. Uma página ou duas por dia, que isto é para durar. Estou na página 422. Por aqui, há um episódio notável que contém imagens que só vou esquecer quando não me conseguir lembrar de mais nada. Trata-se de uma série de crimes que consistem na profanação de igrejas. Um inspetor da polícia tenta descobrir e apanhar o profanador cuja ação consiste em urinar nas igrejas que apanha a jeito. Num desses atos, o homem é apanhado por uma velhinha que olha para ele surpreendida. Demora tanto na sua observação estupefata, que tem que descansar inclinando-se ora para a direita ora para a esquerda, ora o peso todo num pé, ora no outro, parecendo uma estranha dança, perante o homem que parecia rezar ao mesmo tempo que largava um pequeno rio de urina, confirmando, numa observação posterior do padre, que ele tivera razão numa discussão sobre a inclinação do pavimento.
A velha dançando, ora num pé ora no outro - uma imagem que perdurará num sorriso que me regressará muitas vezes. Estou a vê-la, porque também estou lá sentado. Não lhe vejo as pernas tapadas pelas filas de bancos que se interpõem - apenas, o corpo dela, ora para a esquerda, ora para a direita.