Para acabar de vez com a nomenclaturaPolítica
Já todos sabemos isto: eles circulam entre os cargos disponíveis de acordo com um "top", um "ranking" que têm combinado entre eles. Nós, cá em baixo, limitamo-nos a votar por grosso, depois da parte do retalho, tratam eles. Quem estiver abaixo, esteja onde estiver, dá o lugar a quem vem descendo. Por exemplo, Fernando Gomes cai da cadeira de ministro, e Nuno Cardoso afasta-se e dá o lugar. Será o que acontecerá entre Carmona e Santana.
O objectivo destes senhores pode ser bem mais prosaico do que imaginamos. Pode ser, por exemplo, cumprir o número de anos necessário para ter acesso a uma choruda reforma. Então vá de deixar a Câmara Municipal, por uns tempos, a um ascendente sequioso de poder, e reivindicar a cadeira de deputado ao otário que a ocupa por substituição, só para "fazer tempo".
Na hora de cozinhar as listas, todos sabemos que, em cada partido, há lugares cativos que existem por causa do dito "ranking", e há os novos que o Secretário-Geral ou o Presidente quer impor, quer em lugares elegíveis, quer em lugares não elegíveis. E, só por fim, os que são recomendados pelas distritais.
Enfim, cada um vai, subindo, ganhando o seu lugarzinho, pondo-se em bicos de pés, quando necessário, para ver se entra no "ranking". Muitos estão há dezenas de anos nisto, nesta coisa dos vasos comunicantes das autárquicas, para as legislativas e, destas, para as europeias, sem que nós nos consigamos lembrar do seu rosto, do que nos disse e do que fez para que tivéssemos votado nele. Só nos lembramos da cara do secretário-geral e pouco mais. E assim se faz uma carreira, com as amizades certas e com algum mérito, talvez.
Que aconteceria se os vasos fossem cortados? Se quem estivesse numa câmara, não se pudesse candidatar a deputado por estar comprometido com um mandato? E, se o quisesse fazer, tivesse que abandonar de vez o cargo autárquico? Se perdesse a eleição, voltaria ao seu trabalho anterior à função autárquica, mas não recuperaria o lugar.
No mínimo, os cargos públicos deveriam ser desempenhados inteiramente e, uma vez eleito para um novo cargo, haveria lugar a uma única decisão, por um ou por outro. Mas isto é apenas o que eu considero o mínimo de decência. Pois, por minha vontade, quem ocupasse um cargo público elegível, não se poderia candidatar a outro.