Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Sem Rede

"Sobre aquilo de que não conseguimos falar, é melhor calarmo-nos." (Was sich überhaupt sagen lässt, lässt sich klar sagen; und wovon man nicht sprechen kann, darüber muss man schweigen) - Wittgenstein.

"Sobre aquilo de que não conseguimos falar, é melhor calarmo-nos." (Was sich überhaupt sagen lässt, lässt sich klar sagen; und wovon man nicht sprechen kann, darüber muss man schweigen) - Wittgenstein.

Sem Rede

28
Mai13

O valor das teses de Éric Hanushek

Redes

Li uma entrevista do Público a Hanushek. Não li nenhum dos seus textos. Estou na situação em que preciso de saber se importa realmente gastar mais tempo com a sua leitura.

Hanushek põe toda a ênfase na qualidade do professor  e afirma a comparabilidade de resultados escolares entre escolas para atribuir toda a responsabilidade pela melhor ou pior qualidade dos resultados aos professores e aos diretores.

A sua resposta negativa e lacónica a questões que remetem para outras variáveis como as variáveis culturais e o rendimento das famílias levantam-me toda a suspeição de que a sua tese se limite a correlações entre resutlados que fecham os olhos a outras variáveis para relevar apenas as que lhe interessam. Todos sabemos que numa comparação entre resultados em que usamos correlações, mesmo que uma dada correlação seja elevada pode acontecer que haja outra causa real que acompanhe - escondida - a que estamos a testar. Por exempo, mostra-se que há países desenvolvidos da Ásia que têm turmas grandes com maior sucesso do que países em que há turmas mais pequenas. Lembrei-me de num livro de Daniel Goleman sobre inteligência emocional, este apresentar dados que mostram que os sino-americanos têm resultados médios superiores ao resto da população americana. Goleman mostrava certas características do comportamento das famílias de origem chinesa que conduziam a maior sucesso escolar. Trata-se portanto dum fato cultural que se concretiza numa certa atitude perante o trabalho escolar e em práticas quotidianas dos pais de que Goleman dá conta no seu famoso livro. A cultura é mais difícil de alterar do que outras variáveis que também têm efeitos no sucesso escolar.

Como professor, alegra-me saber que sou eu que faço a diferença, mas é o próprio Hanushek que me diz que não vale a pena tentar melhorar, caso não seja bem sucedido. Ser bom professor é relegado assim para a categoria dos talentos do género "não tente que não é capaz".

Isto acontece apenas porque provavelmente Hanushek não sabe nada sobre educação a não ser o que diz respeito à economia da educação perante a qual o que se passa na sala de aula é uma caixa negra. Tudo o que se tem que comprovar tem que ser feito pela lei dos grandes números. Por outro lado, como é um liberal, no mau sentido, acredita que a concorrência entre professores, escolas e diretores acabará por selecionar os melhores e relegar os piores para o desemprego e para a miséria, precisamente o que não queremos que aconteça com as nossas crianças.

Ora, um dos seus títulos é precisamente No Child Left Behind: The Politics and Practice of School Accountability1Lembro-me desta palavra de ordem da Administração Bush. Sugere que as crianças soçobram na escola porque deixam para trás aprendizagens essenciais sobre as quais se constroem outras. Isso acontece no nosso sistema de ensino. O facilitismo e a indiferenciação pedagógica que resulta da inclusão de alunos com percursos, capacidades e prérrequisitos diferentes numa só turma complica em extremo a tarefa do professor. Se, através de testes, verificamos que um aluno não tem conhecimentos suficientes para acompanhar um grupo de trabalho (turma) e, por isso, falha e diminui o rendimento do grupo para onde vai, deveríamos poder agir no sentido de criar um ambiente onde esses alunos pudessem progredir ao seu ritmo. Todos os selecionadores desportivos sabem isto, assim como os professores de escolas de línguas, mas na nossa escola há uma série de princípios ideológicos (inclusão, igualdade de resultados e não só de oportunidades) que impõem práticas que ignoram a realidade.

O enfoque aqui está na gestão dos grupos de alunos, na seleção do programa para cada um dos grupos, tarefas que por vezes escapam ao professor, mas devem ser tratadas no âmbito do coletivo ou da gestão da escola.

Criticando este título, uma recensão na página da AASA2 (associação americana de administradores escolares) chama a atenção para Hanushek como um autor adverso a algumas componentes da escola pública. Muitos dos títulos ficam-se pelo que eu disse atrás - correlações, mas não causas suficientemente demonstradas.

A obra de Hanushek é bastante diversificada e falar sobre ela implica muito mais do que o que fiz aqui em que me limitei a algumas impressões que, provavelmente, aprofundarei mais tarde.

 

1edited by Paul E. Peterson and Martin R. West, Brookings Institution Press, Washington, D.C., 2003.

2 Artigo na AASA.

Mais sobre mim

foto do autor

Sigam-me

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Wikipédia

Support Wikipedia

Arquivo

  1. 2023
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2022
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2021
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2020
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2019
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2018
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2017
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2016
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2015
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2014
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2013
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
  144. 2012
  145. J
  146. F
  147. M
  148. A
  149. M
  150. J
  151. J
  152. A
  153. S
  154. O
  155. N
  156. D
  157. 2011
  158. J
  159. F
  160. M
  161. A
  162. M
  163. J
  164. J
  165. A
  166. S
  167. O
  168. N
  169. D
  170. 2010
  171. J
  172. F
  173. M
  174. A
  175. M
  176. J
  177. J
  178. A
  179. S
  180. O
  181. N
  182. D
  183. 2009
  184. J
  185. F
  186. M
  187. A
  188. M
  189. J
  190. J
  191. A
  192. S
  193. O
  194. N
  195. D
  196. 2008
  197. J
  198. F
  199. M
  200. A
  201. M
  202. J
  203. J
  204. A
  205. S
  206. O
  207. N
  208. D
  209. 2007
  210. J
  211. F
  212. M
  213. A
  214. M
  215. J
  216. J
  217. A
  218. S
  219. O
  220. N
  221. D
  222. 2006
  223. J
  224. F
  225. M
  226. A
  227. M
  228. J
  229. J
  230. A
  231. S
  232. O
  233. N
  234. D
  235. 2005
  236. J
  237. F
  238. M
  239. A
  240. M
  241. J
  242. J
  243. A
  244. S
  245. O
  246. N
  247. D
  248. 2004
  249. J
  250. F
  251. M
  252. A
  253. M
  254. J
  255. J
  256. A
  257. S
  258. O
  259. N
  260. D