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Out04
Índios encurralados em Roraima
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A criação oficial da reserva Raposa Serra do Sol, hoje assunto do New York Times, é uma reivindicação dos Índios de Roraima e uma promessa eleitoral do Presidente Lula da Silva. Na região, que se situa no norte do Brasil junto da fronteira com a Guiana e a Venezuela, há velhos índios que ainda se recordam de na sua infância não verem nenhum branco por perto.
Agora as suas terras estão a ser invadidas por brasileiros que aparecem com títulos de propriedade ou direitos de ocupação. Os militares instalam uma base, nascem armazéns, constrói-se uma pista de aviação, plantadores de arroz desviam águas de cursos de água essenciais para os índios, aparece uma escola técnica e fundam-se os princípios de uma cidade. Raposa Serra do Sol começa a ficar dividida, retalhada por todos os lados.
Acontece que o governador do estado de Roraima, um grande opositor do registo oficial da reserva, aderiu ao Partido dos Trabalhadores. Os índios sentem que em Brasília o seu problema não avança. Terá Lula traído mais esta promessa feita aos povos indígenas?
Aprisionados pela sociedade industrial, sem meios para impor os seus interesses, ameaçados por agricultores ricos, madeireiros, mineiros e por milhões de outros pobres, produto da emigração e do subdesenvolvimento económico e social, os índios encontram-se à margem, mas essa margem é a margem da nossa esperança de salvação do ecossistema mundial e, em última análise, da própria humanidade.
Se por um lado repudio a defesa do estado actual do índio, como parece razoável para muitos rousseaunianos, nostálgicos dos tempos de ouro da etnologia, por outro, reivindico a proprieade de extensos territórios tropicais para as populações que ainda lá vivem com modos de vida pré-industriais e o direito de evoluírem na direcção da modernidade de acordo com as suas possibilidades e interesses.
Neste caso, estou com os índios de Roraima.
(Imagem retirada de www.markos.it/ umanita/21.htm).