Os movimentos críticos da avaliação do desempenho que o Ministério da Educação quer impor à Escola expressam um mal-estar muito profundo que resulta não só desse último diploma, mas também da forma como a gestão do défice se repercutiu na profissão docente - a talho de foice!
De repente, milhares de professores viram a sua carreira interrompida. Repare-se que não se trata de uma mudança na estrutura da carreira negociada, sofrida, com medidas de transição que acautelassem expectativas justificadas, mas de uma brusca brutalidade. Professores que estavam em vias de apresentar relatório para a mudança de escalão, descobriram que já não valia a pena fazê-lo.
A seguir, o Ministério impôs aos professores um novo horário de trabalho, com uma componente não lectiva "presencial", a reduzir perigosamente o tempo disponível para elaborar enunciados, corrigir testes, elaborar projectos de trabalho com os alunos e um grande etc.
Para uma grande parte dos professores, a componente não-lectiva tornou-se lectiva, com as aulas de substituição, sem que as respectivas horas extraordinárias lhes fossem abonadas.
A divisão entre titulares e não-titulares soou arbitrária para a maior parte dos professores, incluindo a maior parte dos que se conseguiram incluir na nova categoria. Muitos dos que concorreram e falharam sentem que não são piores e, muitas vezes, são, mesmo, melhores do que alguns dos que foram agora investidos do título.
Por vezes, a sensação de injustiça vem da avaliação dos critérios do próprio concurso, outras, da comparação do trabalho efectivamente realizado na escola. É que até agora a progressão salarial tinha apenas relação com a antiguidade e muitos dos que faziam a Escola desenvolver-se e desempenhavam cargos não pertenciam aos últimos escalões da carreira. E muitos dos professores agora agraciados de "titulares", desempenhavam as suas funções num grau mínimo de exigência e olhavam com desprezo para a inovação tecnológica e para as questões pedagógicas e científicas mais prementes no universo da educação.
O concurso para titular premiou esses mesmos professores, redundantemente, pois, como já estavam no topo da carreira, dispensavam a homenagem. Portanto, podemos concluir que o concurso foi REDUNDANTE e ARBITRÁRIO.
Depois de reduzir drasticamente o tempo disponível para preparar aulas, produzir materiais didácticos adaptados a alunos com dificuldades, e etc., o Ministério aparece com um dispositivo burocrático de avaliação com itens de observação, incluindo a observação de aulas alheias, com ponderações, alienações numéricas a impor a uma classe ainda não refeita das mudanças anteriores.
As escolas vão parar para fazer a avaliação da classe docente. Da bolsa de substitutos disponíveis, migrarão titulares que em vez de substituir vão complicar as aulas dos seus avaliados. Será que os titulares da biblioteca terão também de abandonar esse trabalho para fazer avaliação? Os apoios pedagógicos continuarão a fazer-se?
Qual será o preço desta avaliação ponderada, antes classificação, redução a número do diverso, coisa do tipo do que fazemos aos alunos com a escala de 1 a 5 a condensar milhares de coisas diferentes?
Todos os que batem palmas à Sra. Ministra da Educação por ela ter conseguido "pôr os professores na ordem", fazem-no justificadamente, pois o Estado Português S. A. R. L., - sim aquela empresa que oferece cargos chorudos como prémio de carreira a políticos medíocres e aos amigos dos políticos medíocres e respectivos "compagnons de route" - tem na Sra. Ministra um dos mais eficazes capatazes no que toca a conter a massa salarial! A talho de foice!
Muitos colegas perdem-se a discutir coisas como os critérios do concurso para titular, o que me parece completamente irrelevante. Por aí, só encontramos divisões.
É o próprio concurso que é uma aberração, precisamente por sancionar o sistema que quer condenar e promover a mediocridade, numa indiferenciação que continua. Em todos os sistemas, há pessoas verdadeiramente medíocres, há pessoas que se esforçam com mais ou menos êxito que consideram criticamente as suas falhas e procuram melhorar e outros que são bons, verdadeiramente exemplares.
Ora o concurso para titulares juntou todos no mesmo molho, como já estavam nos escalões de topo e deixou de fora muitos bons que mereciam ser promovidos e não o foram em benefício de alguns medíocres ou de menor merecimento.
Isto tem que ser dito com todas as letras e temos que deixar a cantiga alienante de que nós os professores somos isto ou somos aquilo. Não somos nada mais do que as outras profissões. Temos uma deontologia não precisamos que nos digam como ensinar, como avaliar.
NÃO PRECISAMOS DE ACÇÕES DE FORMAÇÃO PARA AVALIAR OS PARES. Posso ser avaliado por qualquer colega e posso avaliar qualquer outro. A questão é: quem de nós tem o direito de o fazer e como o vai fazer e com que garantias, pois somos concorrentes uns dos outros e essa concorrência aumenta com a instauração de um sistema de avaliação selectiva deste género.
Perguntem: que acção de formação teve o Armando Vara para ir para a administração da CGD e, depois para o BCP?
Abandonemos os argumentos de oportunidade do género "as aulas de substituição não servem para nada". Não! As aulas de substituição melhoraram o ambiente da escola em muitos aspectos. Cabe ao substituto torná-la proveitosa. O problema não é esse: É que é um TEMPO LECTIVO. Os professores que fazem substituições têm que se preparar com materiais e planos de actividades para tornar proveitoso o tempo dos alunos. E essas horas são lhes roubadas.
Por isto tudo e muito mais, estarei no 8 de Março!