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"Sobre aquilo de que não conseguimos falar, é melhor calarmo-nos." (Was sich überhaupt sagen lässt, lässt sich klar sagen; und wovon man nicht sprechen kann, darüber muss man schweigen) - Wittgenstein.

"Sobre aquilo de que não conseguimos falar, é melhor calarmo-nos." (Was sich überhaupt sagen lässt, lässt sich klar sagen; und wovon man nicht sprechen kann, darüber muss man schweigen) - Wittgenstein.

Sem Rede

25
Abr18

O lugar do livro - Cortez lido no Público "online"

Redes

Estava a pensar se valia a pena analisar e contribuir para o tema do artigo "O lugar do livro no ensino: problemas e ideias, um subsídio" do António Carlos Cortez no Público. Mas não consegui encontrar nada de palpável para discutir ou analisar. O que quer dizer, por exemplo, levar a discussão sobre o tema para a escola em vez de o discutir na Assembleia da República. Existe essa escolha?

Depois, esta afirmação incrível:

"É verdade que a emergência dos novos meios tecnológicos (o tablet e seus quejandos) não garante – antes impede – a criação de qualquer novo tipo de leitura"

Que evidência pode ser procurada para esta tese? Acho que nenhuma. Desde logo, o que quer dizer "novo tipo de leitura"? Será que o facto de eu ter acabado de ler o artigo que estou a comentar no computador, depois de ter começado a leitura no telemóvel não falsifica esta tese?

Milhares de pessoas leem em computadores, leitores eletrónicos, "tablets" e telemóveis. As editoras têm publicado livros em formato digital. No campo da investigação humanística e científica, a leitura em papel é uma perda de tempo por ser mais morosa. O leitor/investigador vai adiando a leitura dos textos em suporte de papel por causa do incómodo e de muitos instrumentos informáticos não poderem ser tão facilmente aplicáveis a esses itens bibliográficos.

A esse respeito, não há qualquer argumento a não ser a pura rejeição da ligação entre TIC e leitura. O que é apenas cómico, pois não creio que a leitura digital fique ofendida com ACC.

Lemos digitalmente e em linha porque a realidade nos impôs esse "tipo de leitura". É frequente a leitura tornar-se possível, quando de outro modo não se realizaria. Quando numa conversa, se referem textos, especialmente os que fazem parte do património da humanidade, a passagem referida é logo posta à disposição seja da Bíblia, da Odisseia  ou do quer que seja que esteja disponível.

"Perante um trabalho que exige investigação, o tablet ou o iPhone são as tábuas de salvação, julga-se. Mas sem o conhecimento de bibliografia activa e passiva (sem livros na memória!) sobre as matérias acerca das quais têm de “investigar”, que podem os estudantes vir a ler e saber através desses miraculosos suportes virtuais?"

Será que com juízos destes se vai a algum lado? Livros versus tablet ou telemóvel? A primeira coisa a dizer é que sem acesso a recursos em linha é impossível hoje fazer qualquer trabalho de investigação humanística ou científica. Se são necessários livros em papel, isso depende do objeto.

Na sequência do artigo, Carlos Cortez mistura tanta coisa que não é possível concordar ou discordar do que quer que seja: a avaliação, o plágio dos alunos facilitado pela net e a escola a esquecer o livro. O plágio é velhíssimo, não nasceu com a internet. Depois, o cânone: Carlos de Oliveira versus Dan Brown. Os alunos que preferem este provavelmente estarão também usando livros em papel.

Coisas diversas são tratadas como se todas estivessem alinhadas no mesmo eixo de valor que Cortez aplica. Há o suporte da leitura (papel ou electrónica), há a qualidade literária daquilo que lemos quer seja em papel, quer seja em modo digital, há o modo de utilização do trabalho dos outros, e dum modo geral das fontes de qualquer trabalho que é um problema ético antiquíssimo. E há a cultura, o património literário da humanidade e o de Portugal.

Não há remédio para isto: os professores têm que ensinar a ler tanto em papel como em formato digital, a investigar na biblioteca e na Internet, assim como a fazer trabalhos - como utilizar a informação que obtemos de várias fontes para fazer um trabalho significativo nosso.

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