O princípio da limpeza étnica: Deuteronómio 20
Porém, das cidades destas nações, que o Senhor teu Deus te dá em herança, nenhuma coisa que tem fôlego deixarás com vida.
Antes destruí-las-ás totalmente: aos heteus, e aos amorreus, e aos cananeus, e aos perizeus, e aos heveus, e aos jebuseus, como te ordenou o Senhor teu Deus.
Deuteronômio 20:16,17
Faz-se uma distinção entre os povos que ocupavam a terra prometida e os outros. Nestes, em caso de guerra, apenas os varões seriam passados pelo fio da espada enquanto mulheres e crianças seriam escravizados. Pelo contrário, na terra a conquistar pelos israelitas, tanto homens como mulheres e crianças seriam para abater.
Frei Bento Domingues analisa esta passagem na sua coluna de 27/12/2015, no Público em que considera que esta passagem blasfema contra Deus ao lhe atribuir esta ordem de genocídio. Para justificar esta posição, socorre-se da distinção entre duas orientações nos textos bíblicos, uma javeísta histórica e outra javeísta cósmica. Na sua opinião, a primeira perspetiva blasfema claramente contra Deus.
De facto, não há volta a dar, pois Deuteronómio apresenta-se como a voz de Moisés dirigindo-e aos hebreus a ordenar claramente o genocídio daqueles povos. Ou está certo ou errado. Frei Bento Domingues decidiu-se por considerar o texto errado e blasfemo já que põe Deus a ordenar a matança de povos inteiros. Aplaudo esta posição assertiva que rejeita as desculpas habituais que põem os julgamentos divinos à mercê das situações históricas.