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Sem Rede

"Sobre aquilo de que não conseguimos falar, é melhor calarmo-nos." (Was sich überhaupt sagen lässt, lässt sich klar sagen; und wovon man nicht sprechen kann, darüber muss man schweigen) - Wittgenstein.

"Sobre aquilo de que não conseguimos falar, é melhor calarmo-nos." (Was sich überhaupt sagen lässt, lässt sich klar sagen; und wovon man nicht sprechen kann, darüber muss man schweigen) - Wittgenstein.

Sem Rede

18
Out10

Uma cruzada contra o novo acordo ortográfico

Redes

Vasco Graça Moura e Maria do Carmo Vieira encabeçam ao que parece um movimento de resistência contra o novo acordo ortográfico.

Num vídeo, aqui no Sapo, Maria do Carmo faz afirmações fáceis e sem qualquer fundamento.

Basicamente, temos que nos unir contra os políticos porque a língua é de todos e não só dos políticos e linguistas, pois a língua desenvolve-se muito lentamente e não por ordem política.

Tudo errado, meus caros! A verdade é que a língua portuguesa é uma realidade política desde o princípio. A variante escrita existe e impôs-se com a criação de um Estado Nacional, desde o rei D. Dinis até ao nosso tempo. A escrita que temos hoje resulta dos acordos ortográficos do século XX.

Quer o leitor voltar a escrever "mãi"? Olhe que José Saramago aprendeu a escrever assim: "mãi". Quer saber a minha opinião? Tanto faz! Desde que nos punhamos todos de acordo sobre a maneira como escrever a nossa língua. Ora um acordo é coisa que só pode ser feita pelos políticos.

Há alguma razão para os brasileiros e os portugueses deixarem que as normas ortográficas divirjam cada vez mais? Já leu Jorge Amado, Machado de Assis ou Lins do Rego? Sentiu alguma dificuldade? Há algum brasileirismo ortográfico que o perturbou na sua leitura? A mim, não! Porque sou tolerante a essas pequenas diferenças superficiais de que estes senhores fazem um cavalo de batalha. Injustos, ainda por cima, porque os brasileiros cedem também em muita coisa para se porem de acordo connosco.

Veja o sucesso das novelas brasileiras em Portugal. Sente que a sua língua está a ser agredida, que eles falam mal, ou, antes, que falam muito bem e que nós os compreendemos sem qualquer dificuldade?

Então é porque temos a mesma língua falada! E as diferenças dialectais dentro do Brasil e dentro de Portugal são maiores do que as diferenças entre as normas oficiais portuguesa e brasileira. Ah não acredita? Então divirta-se com o seguinte: compare um falante de uma telenovela com uma gravação de um falante de uma variante açoreana. Tem aí a evidência do que eu digo: quando aparece um açoreano ou um madeirense na televisão, por vezes, a RTP põe legenda, mas não precisa de o fazer nas telenovelas.

A minha opinião sobre os resistentes é a seguinte: estão apenas a defender a sua maneira de escrever que é filha de acordos ortográficos do passado! Não estão a defender nenhuma pureza etimológica, porque por esse caminho teriam que rever muita coisa na ortografia actual.

Chamo a atenção para o facto de que este artigo não foi escrito de acordo com a nova ortografia.

Veja as declarações da Maria do Carmo Vieira:

 

13
Out09

Maité Proença

Redes

Muito antes de ser objecto de notícia na RTP, já eu tinha recebido de um colega a notícia do famoso vídeo de Maitê Proença sobre Portugal.

Não se percebe o propósito do vídeo. Para ela, como para qualquer turistazinho labrego ou novo rico - brasileiro ou de outro país qualquer - Portugal resume-se à zona de Sintra e Belém. De Sintra, a única coisa que vemos é uma porta e de Belém, uma parte dos Jerónimos fimada no escuro, em infravermelhos, e pouco mais. A actriz faz-se acompanhar de um "camera man" como se estivesse a fazer um programa cultural. Para a qualidade do resultado, não deixa de ser caricato.

Apresenta Sintra, como "uma vilazinha perto de Lisboa". De facto, precisava de dizer, pois só por milagre um "habitué" de Sintra reconheceria as imagens que apresenta como sendo dessa terra. Tudo para mostrar um número de porta invertido como sinal de estar em Portugal. Qualquer pessoa inteligente ao ver tal facto estranho perguntar-se-ia "porque raio está aquele 3 ao contrário?". Maité Proença rapidamente o atribuiu à portuguesidade do dono da casa. Poder-se-ia concluir que os portugueses não sabem pôr direito os números de porta, especialmente o "3".

Pisca o olho ao espectador sugerindo: "vamos", "follow me". Aparentemente, iria subir Sintra até à zona do castelo ou a algum dos palácios. Não! Vemo-la já nos "pastéis de Belém" que têm a faculdade de a entupir.

Na cena seguinte, já a vemos a apontar para os Jerónimos e para o mar - é ela que diz que é o mar. "É o mar, Daniel?" O rapaz responde primeiro que sim numa evidente referência à enorme amplidão do estuário, mas que logo corrige "é o Tejo". Depois de ser esclarecida, Maité anuncia com ar professoral: "Vou apagar a borrada que ele falou. É o rio Tejo!" Fantástico! Repete o que aprendeu com o outro para o corrigir!

Salazar, ditador por mais de vinte anos... Ninguém tem a obrigação do rigor histórico, sobretudo se não estiver a fazer vídeos para a televisão e não for uma personalidade conhecida.

A "éblouissance" cultural resume-se aos túmulos dos Jerónimos. Depois dos claustros do mosteiro, numa breve referência ao manuelino atribuído a D. Manuel e ao seu gosto - coisa parola de quem não sabe nada de história, já agora o estilo Luís XV tem a ver com o gosto do rei homónimo e por aí adiante - a actriz assume um ar solene de quem vai dizer alguma coisa que os portugueses não podem ouvir.

O que é? Um incidente de hotel! O hotel de 5 estrelas não dispõe de serviço de informática e o técnico que se apresentou olhava para o rato de computador "como se fosse uma capivara" e, finalmente, chamaram o porteiro que também não lhe resolveu o problema do "email". Este episódio serviu para concluir que os portugueses são esquisitos e atrasados já que ninguém lhe resolveu no hotel o problema dos emails. Bela conclusão: se você for a Portugal, é melhor levar um técnico de informática consigo  senão não poderá enviar emails.

No final, ficamos a saber que os emails sempre chegaram. Afinal o rato virou capivara nas mãos de Maité. Como ao longo da peça, a ignorância dos outros, seja a do Daniel, seja a do português que pôs o número de porta ao contrário, seja a do hotel, radica na sua própria. A ignorância de Maité, de uma mulher que é muito bonita, que fica muito bem a cavalgar nua nas grandes extensões brasileiras, mas que, em defesa desta bela imagem, não devia fazer vídeos, mesmo que sejam só para apresentar num programa de televisão onde algumas belas matronas se divertem a falar de superficialidades.

Mas Maité expressa apenas um preconceito conhecido dos brasileiros, especialmente da élite cosmopolita, cultural e intelectual, que não parece ser o caso desta actriz, que Portugal á apenas uma "terrinha". Vir à Europa, é vir a Paris, não a Lisboa. A origem desta sensibilidade está no século XIX, quando a burguesia portuguesa queria manter o papel de intermediária entre o Brasil e a Europa. Os portugueses do Brasil, assim como os de outras nacionalidades, brasileiros logo a seguir à independência, reagiram contra isso e queriam ligar-se de modo directo aos grandes centros europeus, quer em termos comerciais, quer culturais.

Estou farto de dizer a amigos brasileiros que não têm nada que ter esse preconceito. Sobretudo que não olhem para nós como "seus antepassados". Nós temos antepassados comuns, isso sim, mas Portugal não parou no tempo, para o Brasil avançar sozinho.

Portugal é um país de tamanho médio em termos europeus. Teve um papel importante na história mundial e na do Brasil, em particular. É suficientemente grande para ter muitas portas, muita gente ignorante - tal como o Brasil, - muita gente ineligente - como o Brasil  -, muitos hotéis, uns bons, outros piores - como o Brasil, etc. Tomar uns pelos outros, o particular pelo geral, a parte pelo todo é uma pura expressão de preconceito e uma manifesta falta de inteligência.

Em termos de pura literacia e rendimento médio somos muito superiores ao Brasil, mas em termos de volume somos muito inferiores. Mas isso não passa de estatística. O povo brasileiro não é mais inteligente que o português, nem o inverso. E nenhum português, assim como nenhum brasileiro, pode ser reduzido a um conjunto de estereótipos que de facto não se encontram na realidade.

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