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"Sobre aquilo de que não conseguimos falar, é melhor calarmo-nos." (Was sich überhaupt sagen lässt, lässt sich klar sagen; und wovon man nicht sprechen kann, darüber muss man schweigen) - Wittgenstein.

"Sobre aquilo de que não conseguimos falar, é melhor calarmo-nos." (Was sich überhaupt sagen lässt, lässt sich klar sagen; und wovon man nicht sprechen kann, darüber muss man schweigen) - Wittgenstein.

Sem Rede

04
Nov09

Que fazer com este livro? (2) Zimler sobre Saramago

Redes

Fonte da imagem: clique nela

No Público, saiu um belo texto assinado pelo romancista Richard Zimler que expressa a intenção de criticar os dois lados da polémica. Saramago tem razão, mas uma razão irrelevante, dada a falta de novidade e a falta de motivo para o escândalo.

A violência e a crueldade divina nos textos bíblicos teria sido já, desde há muito tempo, objecto de reflexão aberta por pensadores judeus e cristãos. Todavia, o próprio facto da polémica demonstra que ele não tem razão. Senão, toda a gente encolheria os ombros e diria a Saramago, "Pois é! Só agora é que viu isso?".Ora, não foi esse o caso.

A leitura à letra, a crença nos próprios factos narrados, seja o pecado original, a história de Caim e Abel, o dilúvio, a concepção imaculada ou a ressurreição de Cristo não é e não foi no passado coisa só de crianças, como Zimler diz:

"Quando a narrativa bíblica conta que Moisés separou as águas do Mar Vermelho no Livro do Êxodo para que o seu povo pudesse fugir do Egipto, será que alguém com mais de dez anos acredita que ele possa ter murmurado algum abracadabra hebraico e produzido tal milagre?"

São milhões e milhões as pessoas que acreditam em factos deste género, tanto cristãos, como judeus! Mesmo entre os que distinguem a religião popular da doutrina católica oficial, a primeira com os seus santos milagreiros e as nossas senhoras que lacrimejam no canto da igreja e a segunda com os argumentos filosóficos sobre Deus,  são muitos os que colocam os factos bíblicos ao abrigo de qualquer crítica.

A resposta de Zimler à questão colocada por Saramago encontra-se no mesmo nível das de Tolentino Mendonça e de Carreira das Neves, com uma diferença essencial. Zimler afirma uma leitura alegórica dos factos narrados numa perspectiva de distanciamento cultural já que não crê num Deus pessoal, enquanto os outros dois acreditam que a alegoria é uma mensagem divina que tem como destino a humanidade, apesar de ter sido escrita por homens.

De resto, desconfio que a história desta questão no pensamento teológico, judaico e cristão, está mal contada por Zimler. Os escritores dos livros do Novo Testamento, por exemplo, quando se referem ao significado alegórico de certas passagens do Antigo Testamento, consideram os próprios factos acontecidos como o material da alegoria.

Por exemplo, no livro de Mateus, Cristo faz de Jonas uma metáfora de si próprio. Como Jonas estivera três dias na barriga da baleia, estaria ele morto três dias, no seio da terra, ao fim dos quais seria ressuscitado (Mateus, 12:39-40; Jonas, 1-2). Um acontecimento serve como ilustração de outro que há-de suceder.

Penso que este tipo de raciocínio é um dos processos fundamentais da leitura religiosa da Bíblia. Traçam-se paralelos entre narrativas em que umas funcionam como alegorias das outras, para compreender e até, para prever, factos a suceder. Assim, temos a Jerusalém terrestre face à Jerusalém celestial, o reino de Israel como figura do Reino celestial de Deus, (Apocalipse, 3:12); o sacrifício de Isaque por Abraão como significando o sacrifício do próprio filho de Deus permitido pelo Deus Pai.

É como se Deus escrevesse com a história, com os acontecimentos propriamento ditos, as alegorias do que está para vir e dos seus propósitos para a humanidade.

Parece-me que o judaísmo não difere do cristianismo neste aspecto. A filosofia, platónica ou aristotélica, limitou-se a acrescentar novos argumentos para provar as mesmas coisas e a colocar mais camadas interpretativas sobre as singelas narrativas bíblicas sem nunca contestar a sua verdade factual. Assim, por exemplo, Maimónides (1135-1204), um dos grandes sistematizadores da Mishná, afirma como princípios básicos do judaísmo a outorgação da Torah (os cinco primeiros livros da Bíblia) por Deus a Moisés e a verdade absoluta do que lá está escrito. Portanto, a criação do homem é como está lá, assim como o dilúvio, o êxodo e a conquista da Palestina.

Não é a perplexidade perante a violência que nos interessa, nem o facto de haver relatos de acções violentas. O que está em causa é a posição axiológica do narrador perante os factos narrados.

Quando Zimler escreve que o Antigo Testamento nunca teve como propósito constituir qualquer coisa de parecido com um manual de boas ou más maneiras está a arriscar-se num terreno muito escorregadio que consiste em atribuir um propósito a esse conjunto de livros, coisa que implica tanta hermenêutica que é impossível de confirmar ou contestar, a começar pela definição de uma orientação global para tantos e tão diversos textos.

Se se refere ao judaísmo, reconheço que esses livros não têm só orientação para a vida, mas têm muito mais do que isso. A relação entre Deus e o seu povo escolhido é também um tema muito genérico que inclui necessariamente as boas ou más maneiras.

Os mandamentos recebidos no tempo de Moisés, no monte Sinai, foram certamente resumidos e universalizados. Creio que os judeus chegaram ao princípio dos dois mandamentos – amar a Deus sobre todas as coisas e ao seu semelhante como a si mesmo - antes dos cristãos – ou talvez estes tenham sido apenas um ramo do judaísmo que se autonomizou. Hilel, um rabi que viveu entre 60 a.c. e 9 d.c. foi um grande defensor desta filosofia do altruísmo como o essencial do judaísmo.

As histórias bíblicas não são necessariamente para edificação moral, mas também não é esse o problema colocado por Saramago.

“Pegar no Antigo Testamento para criticar a brutalidade dos hebreus ou de outros povos da antiguidade é o mesmo que criticar Dostoievsky por escrever sobre um assassinato premeditado em Crime e Castigo ou criticar Anne Frank por descrever como a crueldade nazi afectou a sua família”.

Discordo deste juízo, pois nenhum destes livros é considerado como a "palavra de Deus" e ambos são narrativas na primeira pessoa. Num, o narrador narra os seus próprios actos, no outro, maldades alheias de que é vítima.

O primeiro deixa o leitor livre para ter uma posição crítica perante um narrador  que se questiona e vive o problema da culpa. No outro, o leitor recebe uma atitude ética da parte da própria narração. Ao dizer isto, Zimler confunde uma leitura profana da Bíblia com uma leitura sagrada.

Na história de David e Bate-Seba em que David põe um homem na frente de batalha para que ele morra em combate e lhe deixe a mulher disponível, há uma condenação divina do próprio rei (II Samuel 11-12). Não é o que acontece no caso de Job, Caim ou Sodoma e Gomorra. Nestes casos, é o próprio Deus que intervém e revela a sua indiferença e crueldade.

O problema é que Deus seja assim, parcial, impulsivo e castigador, que seja um Deus para quem apenas os poderosos contam, pois a família de Job está lá para sofrer e morrer e comprovar a excelência da sua fé. Será facilmente substituída por outra quando acabarem as provações. É também o caso das crianças e das mulheres de Sodoma e Gomorra, que tinham obviamente que estar presentes na cidade no momento da destruição, mas ausentes das considerações divinas, como Saramago lembrou na televisão.

Essa narrativa, esse Deus, é humano. Nem ele, nem os patriarcas, nem os chefes dos hebreus, são piores que os deuses e os chefes de outros povos. Custa-nos que esse livro que tem princípios de moral e justiça diversos, contraditórios e antigos, que a humanidade já ultrapassou, seja considerado sagrado e a palavra de um qualquer Deus, tido por superior a todos os outros.

No fundo, Zimler e Saramago estão de acordo. Este subscreveria isto, quase de certeza:

“Quem quer que deseje conhecer até onde pode chegar a abominação e a crueldade humanas e até que ponto Deus - ou o Destino - pode ser impiedoso bastar-lhe-á abrir o Antigo Testamento”

Referências

Em primeiro lugar o texto de Richard Zimler. Clique no título: Saramago e a insustentável leveza da ignorância

Como sempre, o blog Quem escreveu torto por linhas direitas? (veja-se aqui a interpretação do caso de Caim, a mesma que Saramago narrativiza - http://quem-escreveu-torto.blogspot.com/2007/09/caim-e-abel-o-primeiro-crime.html).

Entradas de enciclopédia sobre a história do judaísmo e rabinos famosos na Brittish Enciclopedia 2006 (DVD), Encarta e Wikipedia.

O muito útil Dicionário das religiões do grande Mircea Eliade.

Três versões da Bíblia em cima da secretária.

Mais alguns textos que a preguiça me impede de referir.

27
Out09

Que fazer com este livro? (1)

Redes

(fonte da imagem: http://ojovemsonhador.blogspot.com/2009/03/mais-contradicoes-da-biblia.html)

Da Bíblia, pode-se dizer o que não se diz de mais nenhum outro livro no mundo cristão: que é a palavra de Deus, que foi escrita por homens, mas inspirada por Ele.

No entanto, para que a Bíblia seja a Verdade, tem de ser lida "simbolicamente" - dizem-nos os que se opõem às interpretações literais, tidas por fundamentalistas.

Quais são efectvamente os limites da interpretação simbólica? Como permanece o valor da Verdade em leituras que variam  historicamente?

Penso que os debates entre Saramago e Carreira das Neves e Tolentino de Mendonça estão viciados por estes estarem a apresentar leituras condizentes com os tempos modernos para salvar a reputação da Bíblia nos factos chocantes evocados por Saramago.

O pecado original

Tomemos a narrativa do pecado original. Começa assim

"Ora, a serpente era mais astuta que todas as alimárias do campo que o SENHOR Deus tinha feito. E esta disse à mulher: É assim que Deus disse: Näo comereis de toda a árvore do jardim?" (Génesis, 3:1)

O autor entra num registo de fábula, pois todos sabem que os animais não falam. Podermos daqui concluir que a história do pecado original é do princípio ao fim uma fábula sobre a desobediência? Ou devemos acreditar que de facto a serpente falou com Eva e seduziu-a para o pecado? Ao contrário das fábulas de Esopo que integram a sua própria interpretação, nesta história, aprendi desde pequenino que isto aconteceu mesmo, que a serpente falou com Eva, que esta comeu do fruto proibido e induziu o marido no mesmo erro. Aprendemos também que a serpente tem, na verdade Satanás, o diabo, por detrás.

Nada no texto, permite esta interpretação. Em nenhuma parte do livro de Génesis, aparece qualquer referência ao famoso anjo do mal. Se fosse o caso, porque não seria dito no próprio texto que era o diabo que falava através daquela serpente especial, como acontece em livros mais tardios, como Job?

Como acontece nos mitos das origens, o episódio acaba com a referência a factos conhecidos do mundo: a sujeição do homem ao trabalho, da mulher às dores no parto e da serpente a rastejar sobre o ventre e a ser pisada pelos homens (Gen. 13-16). É um conto fantasioso que explica certos factos da realidade. Numa interpretação literal, diríamos que a serpente (sinédoque de cobra?) só começou a rastejar após este episódio e que a mulher tem dores de parto, por causa do pecado original.

Caim e Abel

Na história de Caim e Abel, capítulo 4 de Génesis, vemos que a agricultura e a patorícia aparecem logo na segunda geração humana. Dos dois primeiros filhos de Adão, um torna-se agricultor, o outro pastor. Caim oferece frutos da terra a Deus, ao passo que Abel oferece cordeiros. Deus aceita a oferta de Abel, mas rejeita a de Caim. Este, despeitado, mata o irmão. Um crime passional, com Deus pelo meio!

Esta história ganha todo o sentido se interpretarmos o conflito como uma disputa entre povos de agricultores e de pastores nómadas, afirmando a predilecção de Deus pelos nómadas e pelos sacrifícios de animais. Como a historiografia israelita mais recente tende a confirmar, o povo judaico tem provavelmente origem em tribos de pastores nómadas que vagueavam por entre as populações agrícolas e urbanas cananeias.

Mas na narrativa bíblica nada disto nos é dito. Temos apenas dois homens que querem honrar Deus, cada um à sua maneira, com o que a sua natureza lhes permite oferecer. Perante isto, temos uma preferência divina inaceitável, mas compreensível à luz dos conflitos históricos acima referidos de uma pressuposta alegoria que passa pelo cordeiro como símbolo do sacrifício de Cristo.

O dilúvio

No capítulo 6 de Génesis, Deus decide matar toda a humanidade à excepção de Noé e da sua família. A culpa é dos filhos de Deus que se apaixonaram pelas mulheres dos homens e delas geraram seres poderosos e monstruosos. Por isso, a humanidade vivia na maldade.

É um mito antigo com muitas semelhanças e evidente genealogia comum com a história suméria de Gilgamés. Mas para um crente na Bíblia, é na história de Noé que está a originalidade. A possibilidade de inserir casais de todas as espécies de seres vivos numa espécie de barco construído por Noé é impensável a não ser para alguns fundamentalistas da leitura literal da Bíblia.

É, sem dúvida, uma bela história, mas dificilmente passa numa simples análise ética. Primeiro, a estranheza por apenas um homem com a sua família merecer a salvação. Depois, a culpa atribuída por Deus aos homens quando o próprio texto a atribui, antes, aos filhos de Deus. Finalmente, a irrascibilidade divina:

"Destruirei o homem que criei de sobre a face da terra, desde o homem até ao animal, até ao réptil, e até à ave dos céus; porque me arrependo de os haver feito." (Gén. 6:7)

Entretanto, Deus condói-se, aprecia Noé e muda de ideias. Avisa-o e depois dá-lhe as instruções para a construção da arca:

"O fim de toda a carne é vindo perante a minha face; porque a terra está cheia de violência; e eis que os desfarei com a terra." - declara Deus a Noé (Gén. 6:13)

À violência humana, contrapõe Deus a sua violência final.

Na instrução para os animais a levar para oa arca, há uma distinção que aqui parece ancrónica: dos animais limpos levam-se sete elementos; dos não-limpos, só um casal para conservação. Trata-se de convenções alimentares judaicas de que ainda não tinha havido referência (Deuteronómio, 14).

Ao fim e ao cabo, trata-se da mesma projecção do presente narrativo sobre o passado narrado que encontramos em Caim e Abel. Como se Caim tivesse que se ater a recomendações rituais que aparecem muito depois: o sacrifício de animais a Deus em Levítico:

"Quando algum de vós oferecer oferta ao SENHOR, oferecerá a sua oferta de gado, isto é, de gado vacum e de ovelha." (Lev. 1:2)

Sodoma e Gomorra

Em Génesis, 19, aparece a história de Sodoma e Gomorra que são destruídas por Deus por causa do mau comportamento dos seus habitantes. Trata-se de práticas homossexuais, pois os sodomitas querem apoderar-se dos anjos que vêm avisar Lot e não aceitam as filhas deste em troca. No cenário de Sodoma e Gomorra em chamas, vemos Lot e a família em fuga. A mulher transforma-se em estátua de sal por infringir a interdição de olhar para trás. Lot fica sozinho com as filhas. Estas, desejando dar descendência ao pai, emebedam-no, deitam-se com ele e dão origem a dois povos diferentes. É extraordinário que após a grave punição de Sodoma e Gomorra, tenha lugar este incesto, sem que nada o impeça, e sem qualquer consequência nefasta para as filhas pecadoras.

Assim, as intervenções divinas surgem no decorrer de ataques de ira e não como a aplicação equitativa a todos dos mesmos princípios de justiça.

Conclusão

Fico-me por estas três histórias que mostram sem qualquer dúvida, um Deus tribal, violento e impulsivo, dado a ataques de ira, mas também ao perdão. Não diverge em geral  dos deuses de outras mitologias, neste aspecto particular. Este Deus ganha toda a sua credibilidade no contexto duma história partilhada por israelitas e cananeus, povos de difícil distinção, em que o primeiro, constituído essencialmente por pastores nómadas das montanhas, se opõe aos sedentários agrícolas e urbanos das terras baixas no período que precedeu a formação da monarquia israelita do século VII a.c..

Há uma recepção de histórias mais antigas que são rescritas de acordo com os interesses ideológicos do reino de Israel. Assim se projectam nas origens da humanidade particularidades rituais judaicas.

Este Deus tribal, vingativo, irado e errático nas suas decisões torna-se para nós violento por contraste com a cultura cristã que herdámos e que apareceu cerca de quase mil anos depois da geração dos livros que se atribuem tradicionalmente a Moisés.

A mudança do Deus privativo dos judeus para o Deus universal dos cristãos é uma mudança fundamental que revela a historicidade e a humanidade de ambos.

A violência que Saramago denuncia na Bíblia não é intrínseca à doutrina ou ao texto bíblico, mas generalizada a todos as mitologias, povos e civilizações.

As religiões cristã e hebraica serviram tanto como suporte ideológico para o Estado como para a dissidência e a luta contra a opressão. A história da Inquisição e das cruzadas tem a ver com a estrutura política dos estados europeus e da Igreja que também cometeu crimes hediondos. Não nos podemos esquecer que entre as suas vítimas estão também pessoas que queriam que os cristãos tivessem o direito de ler a Bíblia na sua língua.

Creio que a evangelização cristã tornou menos violenta a Europa Medieval do que o seria não cristianizada. Pense-se, por exemplo, nos Vikings que antes de cristianizados eram verdadeiramente sanguinários.

Não é só a religião que nos dá o direito de matar o nosso semelhante sem remorsos. Muitas ideologias políticas o permitem. Nacionalismo, marxismo-leninismo, nazismo,  fascismo, maoismo, fundamentalismo islâmico têm uma quota parte de horror na história humana em nada inferior à dos que se reclamam do legado bíblico. Se a Igreja oprimiu Galileu e matou Girodano Bruno, os revolucionários franceses mataram gratuitamente o maior cientista do seu tempo, Lavoisier.

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