Tempo de reflexão
Tomou hoje posse uma nova direcção no Agrupamento de Escolas de Santo Onofre que foi eleita pela grande maioria dos membros do Conselho Geral Transitório. Como professor desta escola pertencente à minoria que se sente derrotada, cumpre-me felicitar o Sr. Director e a sua equipa, e desejar-lhe sucesso na espinhosa tarefa de dirigir a escolarização de muitos jovens, para quem os próximos anos serão marcos singulares das suas vidas e não apenas experiências educativas de maior ou menor sucesso.
O conselho que elegeu o novo director foi eleito com uma única lista de sete docentes, para a qual não apareceu rival, facto que, mesmo no contexto da chamada “gestão democrática das escolas" não constitui novidade – o Conselho Executivo demitido pela DREL também fora eleito por uma única lista concorrente. A novidade está no carácter indirecto da eleição que colocou o acto eleitoral ao abrigo do julgamento pessoal de autarcas, encarregados de educação, professores e funcionários. Ficou tudo nas mãos dum conselho composto por 21 membros.
A verdade é que muitos professores, alérgicos ao processo eleitoral do CGT por causa da solidariedade com o executivo apeado, não participaram no acto que elegeu os seus representantes. Mas também não foram tantos que impedissem um muito honroso resultado para a lista de professores concorrentes, com uma quantidade impressionante de votos favoráveis. Parece evidente que muitos professores concluíram que era chegada a altura de regularizar a situação das escolas de Santo Onofre.
A presidente do conselho executivo cessante, com quem me solidarizo, concorreu também e perdeu estrondosamente (2 contra 15). O fracasso em conseguir os votos do CGT, deveria levar a uma reflexão por parte da candidata e dos seus apoiantes. A tentação para teorias da conspiração ou acusações de fraude eleitoral deve ser afastada para que se cogite sobre os erros próprios. Pois se aquelas são boa solução para salvaguardar o amor próprio, são estes que nos permitem avançar e prepararmo-nos para outras situações similares. Eu quero contribuir com a minha modesta parte, como sempre num salto “sem rede”.
O conselho executivo cessante teve um grande mérito que temos que lhe reconhecer: não pode ser acusado de ter militado em defesa de interesses pessoais, pois os factos desta história evidenciam que caso os seus membros o tivessem desejado poderiam ter sucedido a si próprios, quer como CAP quer como candidatos ao cargo de “Director”. Porque não aproveitaram essas oportunidades? A CAP foi imposta pela DREL exactamente por causa da sua recusa.
O Conselho Executivo sentia que a maioria dos professores - diríamos todos se a História não tivesse vindo desmentir-nos - achava que o executivo, fiel ao mandato que recebera dos seus pares, não se devia tornar “direcção” no novo modelo de gestão, cuja implementação parecia ser condição do calendário do nefasto sistema de avaliação.
Há aqui dois erros que quero assinalar. O primeiro tem a ver com os apoios. Em reuniões, onde aparentemente se discutiam abertamente os assuntos, imperava uma "maioria silenciosa" que não manifestava opinião nenhuma. Nem lhe era dado apresentá-la. Perante minorias militantes com caras que se apresentam como gurus seguros do movimento, ninguém ou quase ninguém se atreve a apresentar um ponto de vista divergente. A maior parte das pessoas não tem mesmo opinião formada e aceita o rumo das coisas para "ver o que é que dá". Ora em nenhuma dessas reuniões foi feita a votação formal de uma ou mais moções que definisse o caminho a seguir. Nem teria de... - dir-me-ão. Nem teria de... - concordo eu. Mas essa seria a única maneira de comprometer todos com uma posição. Perante a energia das minorias activas, ficou o conselho executivo com a ideia de que tinha o "povo" consigo, mas não o tinha.
O voto secreto é a arma da "maioria silenciosa". Por ele, nunca se fazem revoluções. Quanto a mim, ainda bem. Os líderes democráticos têm que temperar as suas opções pelo sentir das maiorias. Na TV, vemos manifestações impressionantes feitas por minorias que não têm o apoio declarado da maioria dos seus concidadãos, mas oferecem aos seus líderes a ilusão do apoio do povo.
O segundo erro tem a ver com a interpretação de que o calendário da avaliação dependia da implementação do novo modelo de gestão, com uma ordem que se supôs implicar um CGT, um um novo regulamento e a eleição do director. Não vou entrar em pormenores de discussão jurídica, que não me interessam muito, mas já vi interpretações diferentes, que dissociam completamente as duas leis.
Eu, pessoalmente, sou uma ovelha obediente, que aceita a luta de massas dirigida nacionalmente pelas organizações sindicais que nos representam. Se a lei de gestão das escolas mudou, temos que eleger os nossos dirigentes de acordo com ela. Se não concordamos com ela, fazemos manifestações, influímos nos nossos partidos, mas esta é uma questão nacional e não local.
No que respeita à avaliação, houve uma directiva sindical a nível nacional, a que aderi, que consistia em não entregar os objectivos. Tinha a perfeita consciência de que os custos e os riscos eram meus e dos milhares que procediam como eu. Ora, lembro-me que numa dessas reuniões, os professores que não queriam aderir a esta forma de luta manifestaram preocupação quanto à entrega dos seus objectivos e à sequência da sua avaliação...
A partir do momento em que há um grupo de professores disposto a participar no Conselho Geral Transitório, a estratégia tácita que os professores da escola seguiam ficou ferida de morte. Na altura, chamei a atenção para o facto. Nem podemos acusar ninguém. A mudança de posição foi antecipada e abertamente expressa e os procedimentos de criação da lista foram límpidos. Já tive ocasião de adjectivar positivamente a pessoa que liderou a lista para o Conslho Geral Transitório. Leio nos comentários dos blogues processos de intenção como se dum lado houvesse só interesses pessoais mesquinhos e do outro só grandeza e nobreza. Há interesse pessoal e nobreza quanto baste, tanto num lado como no outro.
Quer me parecer que o resultado desta dinâmica foi a radicalização e a divisão entre colegas, os que estão solidários com o executivo cessante e os que estão do lado da CAP e do Conselho Geral Transitório. Ora isto não é verdade à partida, mas pode ter-se tornado tal por se ter afirmado tão peremptoriamente ao nível das relações pessoais. Não terá esse mal-estar peturbado a nossa candidata quando se apresentou ao CGT?