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Sem Rede

"Sobre aquilo de que não conseguimos falar, é melhor calarmo-nos." (Was sich überhaupt sagen lässt, lässt sich klar sagen; und wovon man nicht sprechen kann, darüber muss man schweigen) - Wittgenstein.

"Sobre aquilo de que não conseguimos falar, é melhor calarmo-nos." (Was sich überhaupt sagen lässt, lässt sich klar sagen; und wovon man nicht sprechen kann, darüber muss man schweigen) - Wittgenstein.

Sem Rede

24
Out11

Militares descontentes reivindicam exceção

Redes

Já em 2007, no tempo de Sócrates, tinham os militares conseguido impor um tratamento excecional na reforma da administração pública, com uma disposição que assegurava que os militares não seriam incluídos - o que significava a manutenção dos privilégios deste "corpo especial".

Agora, vemo-los de novo em pé de guerra. Põem-se assim, evidentemente, como outros setores do estado, quando sentem que o governo lhes está a mexer nos bolsos.

No encontro nacional de 22 de Outubro, vemos, então, duas personagens curiosas: um sargento dos dias de hoje e um capitão de Abril, Vasco Lourenço, a argumentarem contra os cortes no rendimento dos militares no ativo e pensionistas. O segundo recordar-se-á que o 25 de Abril começou precisamente com a insatisfação dos capitães de carreira contra direitos outorgados a capitães milicianos. Acrescenta, por isso, o discurso igualitarista de solidariedade com todo o povo.

Contudo, quando se trata de reivindicar, fala-se claramente da especificidade dos militares como argumento maior. Então, se estes cortes são globais, aplicados a todos os assalariados do estado, que sentido faz falar da condição específica dos militares? É que Lima Coelho chegou a falar desses mesmos privilégios, como justificados precisamente por eles arriscarem a vida na defesa da pátria.

Os que arriscam realmente a vida são os que partem em efetivas missões e não todos os que o juraram fazer. Em todo o caso, não me compete contestar a justeza destas reivindicações. Apenas pretendo destacar a moldura discursiva, e ideológica, igualitarista e solidária utilizada para, na verdade, justificar uma exceção.

É com alguma graça que leio a ameaça velada dum novo 25 de Abril contra o PREC da direita. Se for, começará da mesma maneira do que o primeiro, com os interesses da carreira militar. Resta saber como acabaria uma tal contra-revolução (contra a dita revolução da direita, evidentemente).

 

08
Jan11

Luta de classes ou de corporações?

Redes

Todos conhecemos a frase célebre do Manifesto Comunista: "Proletários de todo o mundo, uni-vos"

O mito de uma história feita de classes a lutarem umas com as outras numa polarização que põe dum lado os dominadores e do outro os dominados ainda prevalece no âmago da mentalidade da esquerda.

Essa concepção atingiu o máximo de risibilidade na última manifestação liderada pela CGTP com os juízes ao lado dos "outros" trabalhadores, unidos contra o governo. Com os patrões alheados da coisa, parece que o governo é que é a classe dominante. Só lá faltavam os deputados e os ministros que, salvo erro, não têm cortes salariais inferiores aos dos magistrados, mas infelizmente como protagonistas das leis não podiam dar voz pública ao desagrado que lhes ia na alma. Se lá estivessem, teríamos provavelmente o país unido numa manifestação contra... os mercados.

A verdade é que nem aqui nem em nenhum outro lado estiveram os proletários do país ou do mundo unidos contra a burguesia. Quem seria o proletariado ou quem seria a burguesia não é um problema fácil. Para Estaline, um pobre camponês ucraniano seria um burguês em potência. Por isso, tratou de eliminá-los aos milhares.

O que é de facto visível é que pessoas com interesses comuns se unem em defesa dos seus interesses. Trata-se essencialmente de profissões. E a sua luta tem, na verdade, do outro lado, os patrões, nuns casos, noutros, o governo, ou ainda, a sociedade inteira.

Álvaro Santos Pereira diz a respeito das lutas dos dentistas contra a invasão brasileira:

"Isto é, os protestos contra os imigrantes são muitas vezes impulsionados pelas nossas classes profissionais que frequentemente advogam restrições à chegada dos seus congéneres provenientes de outros países. Afinal, se estas mesmas classes profissionais tiverem um monopólio a proteger ou estiverem em situação privilegiada no mercado nacional (angariando rendimentos ou cobrando preços acima dos praticados internacionalmente), é claro que essas mesmas classes profissionais terão todo o interesse em tentar impedir a entrada de concorrentes estrangeiros que levarão a uma baixa dos preços dos seus serviços" (Os mitos da economia portuguesa, Lisboa, Guerra e Paz, 2007, p. 158)

Neste caso, os dentistas brasileiros fizeram de facto os preços descerem tornando menos interessante a profissão de dentista.

De modo similar, os advogados unem-se sob a direcção da sua ordem contra uma nova invasão não do estrangeiro, mas dos jovens licenciados. Essa invasão tornará a breve trecho a justiça mais barata. É evidente que isto não interessa a quem a vende. Interpuseram um exame à entrada na profissão que foi considerado inconstitucional, agora vão exigir o mestrado como habilitação mínima para exercer a advocacia. Não é possível entre lutas de interesses definir uma moral que nos permita decidir quem tem razão. O que podemos fazer é ver quem é que ganha e quem é prejudicado. Há, contudo, valores que podemos ler nas opções tomadas. Por um lado, o direito de jovens formados exercerem a profissão e concorrerem com os mais velhos. Por outro, o direito da ordem defender critérios de qualidade à entrada na profissão. Pois que tirem o mestrado e apareçam.

20
Dez10

Pessimismo, precisa-se!

Redes

Gosto deles, do Medina Carreira, a nossa Cassandra, que, infelizmente, tem sempre razão, do Silva Lopes e de outros que conseguem ver o rei nu por debaixo das suas gabarolices.

Ver a realidade pode ser, mais que difícil, verdadeiramente insuportável.

Não sou religioso, mas foi com um fervor desse tipo que ouvi as palavras sábias deste padre.

 

 

 

18
Dez10

Vagas em medicina: o dedo na ferida

Redes

Um dia, ao ter de pagar mais de 3000 euros por uma cirurgia a que acresciam cerca de 500 euros para o anestesista que não estaria em cena mais do que meia-hora, perguntei-me por que seriam estes montantes tão altos. Sabia que o médico, após a operação, teria um dia de trabalho normal no hospital e no seu consultório privado, isto é, com inúmeras consultas para facturar.

Constatava também que não havia mercado concorrencial na medicina privada que justificasse o meu preço como resultado de uma escolha de qualidade perante a oferta disponível.

Ao reflectir sobre isto, em nenhum momento pus em questão a pessoa do cirurgião que muito estimo, mas que tinha a sorte de estar numa profissão paga a peso de ouro.

Foi nessa altura que dei com um artigo do Expresso que mostrava um gráfico com o número de vagas de acesso anual aos cursos de medicina em Portugal. Por volta do final da década de 70 e princípio de 80, o número de vagas diminuía extraordinariamente. Eu perguntava-me: "mas Portugal ficou de repente com menor capacidade para formar médicos?"

 

De acordo com

Do Plano estratégico para a formação nas áreas de saúde II.

 

Agora, o ministro Mariano Gago vem pôr o dedo na ferida ao declarar abertamente na última Única (revista do Expresso):

"Houve uma redução horrível nos anos 80, em que se autorizaram todas as faculdades de medicina a receber menos alunos do que hoje qualquer grande faculdade recebe. Essa irresponsabilidade política, que teve origem corporativa, pagou-se cara, e foram precisos muitos anos para inverter a situação, aumentar o número de vagas e termos uma oferta minimamente razoável, que ainda tem de aumentar"

Não é o que pensam muitos responsáveis corporativos. Todos querem controlar o número de médicos, para diminuírem a oferta e manter elevados, os salários e os preços dos serviços de saúde. Declaram que as actuais cerca de 1600 vagas já são demais. A verdade é que todos temos conhecimento de casos de jovens que vão para o estrangeiro estudar medicina. Os argumentos que apresentam não colam. Um exemplo "Vagas de Medicina geram críticas".

O actual bastonário protesta, que nunca se teria metido nesses assuntos. Tanto cuidado não teve um ex-bastonário Gentil Martins que precisamente se associa à queda referida das vagas para Medicina.

 

Que corporações conseguem controlar a oferta, impedindo inúmeros jovens de seguir essas vias? Os médicos conseguiram-no, os advogados tentam fazê-lo a todo o custo, os professores, esses, pululam por todo o lado. Não há escola que não os forme... para o desemprego.

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