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Sem Rede

"Sobre aquilo de que não conseguimos falar, é melhor calarmo-nos." (Was sich überhaupt sagen lässt, lässt sich klar sagen; und wovon man nicht sprechen kann, darüber muss man schweigen) - Wittgenstein.

"Sobre aquilo de que não conseguimos falar, é melhor calarmo-nos." (Was sich überhaupt sagen lässt, lässt sich klar sagen; und wovon man nicht sprechen kann, darüber muss man schweigen) - Wittgenstein.

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31
Jul11

De novo: outros predicativos do sujeito?

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​ 

Continuo com o tema do post anterior.

 

  1. O João chegou mais gordo .
  2. O Pedro saiu zangado .
  3. A Maria chegou triste .
  4. O António nasceu português .
  5. Ele começou o trabalho muito contente .

Parece-me que os modificadores do verbo acima assinalados comportam-se da mesma maneira que os casos típicos de predicativos do sujeito:

- predicam algo acerca do sujeito.

- ligam-se ao sujeito por um verbo.

Reconhecendo esse fato, não poderíamos admitir uma classe de verbos que permite modificadores que se reportam ao sujeito? Assim o predicativo do sujeito tanto poderia ser um complemento, no caso de verbos copulativos como um modificador no caso de outros verbos.

Acontece algo similar com grupos adverbiais e preposicionais que se comportam ora como modificadores ora como complementos. Os grupos adjetivais não aparecem no Dicionário Terminológico como modificadores do verbo, motivo pelo qual ficamos com aqueles casos em terra de ninguém.

Podemos averiguar se se trata realmente de adjectivos com função adverbial, substituindo-os por advérbios que tenham o mesmo sentido. Ao tentar fazê-lo, verificamos que não conseguimos encontrar advérbios aceitáveis (talvez só "tristemente"). É que não há de facto uma maneira gorda de chegar ou um modo português de nascer. O que me parece é que co-ocorrem na frase o estado expresso pelo adjectivo e o evento expresso pelo verbo.

O sentido das 5 frases poderia ser assim parafraseado:

  1. Quando o João chegou, estava mais gordo .
  2. Quando o Pedro saiu, estava zangado .
  3. Quando a Maria chegou, estava triste .
  4. Quando nasceu, o António era português .
  5. Quando começou o trabalho, ele estava muito contente .

Estas construções com subordinadas são de facto dispensáveis porque, aos verbos em causa, basta acrescentar os grupos adjectivais.

19
Jul11

Predicativo do sujeito

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É perturbante que o dicionário terminológico, que eu considero um bom instrumento de trabalho, não responda eficazmente a algumas dúvidas elementares colocadas pelas suas definições. O caso que tenho entre mãos é o "predicativo do sujeito" que é assim definido:

"Função sintáctica desempenhada pelo constituinte que ocorre em frases com verbos copulativos, que predica algo acerca do sujeito."

A definição de verbos copulativos é lamentavelmente circular, isto é, leva-nos de novo à entrada de "predicativo do sujeito", facto que foi devidamente assinalado no momento da discussão da Tlebs.

"Verbo que ocorre numa frase em que existe um constituinte com a função sintáctica de sujeito e outro com a função sintáctica de predicativo do sujeito."

Como são interdependentes, ficamos sem saber o que é um e o que é o outro.

É neste enredado que aparecem as dúvidas. No Guião de Implementação do Programa de Conhecimento Explícito da Língua, aparecem, numa das actividades propostas para o assunto do predicativo do sujeito, as seguintes frases:

  • O Pedro saiu zangado.
  • A Maria chegou triste.
  • O António nasceu português.

São frases cujos predicados eram designados por verbo-nominais por conterem também um predicativo do sujeito. Veja um exemplo desta classificação numa entrada da Wikipedia: Predicado (gramática).

Ora, no dicionário não aparece nenhuma solução para designar correctamente a função sintática dos constituintes sublinhados nas frases acima. Como vimos, a classificação de predicativo contradiz as definições do dicionário, pois os verbos das três frases não são copulativos.

Não obtenho uma resposta assertiva e clara por parte dos autores do dicionário: qual é a função sintáctica desses adjectivos.

A minha resposta é: predicativo do sujeito! Mas fico perturbado com a contradição com o dicionário e com a consistência da actividade do GIP que foi precisamente buscar estes casos para mostrar ao aluno que estas frases não têm predicativo do sujeito, pois os grupos adjectivais podem ser excluídos sem que a frase fique agramatical.

18
Fev07

O manifesto do Vasco Graça Moura

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Li no Ciberdúvidas mais um artigo do Vasco Graça Moura sobre a Tlebs, publicado no DN em 31/01/2007. Trata-se de uma verdadeiro libelo. VGM parece assumir-se como o Gandhi da desobediência civil relativamente à Tlebs. Por um lado, diz que os professores têm formação, têm validade intelectual, mas por outro, oferece-lhes uma palavra de ordem bastante simplória, e, como vou mostrar, impossível de executar.

No artigo, VGM, retira do célebre ensaio do João Peres, já aqui muitas vezes referido, e de outras intervenções deste contraditório polemista, o que lhe interessa. Não diz nunca que quase todas as críticas feitas por si próprio à Tlebs são cruelmente rejeitadas ou desvalorizadas pelo João Peres. Dá assim a ideia de uma  solidariedade entre todos os que se opõem à Tlebs que é falsa.

Vasco Graça Moura conclui assim o seu libelo:

"No vazio instaurado, a si, caro professor, o que lhe resta é ir ensinando, provisoriamente, com base na Nomenclatura Gramatical Portuguesa de 1967 e na Gramática de Celso Cunha e Lindley-Cintra. Não serão perfeitas nem inteiramente satisfatórias, mas pelo menos não bloqueiam as suas possibilidades de se assumir a sério como professor de Português.

Até a TLEBS ser objecto de uma revisão decente, só resta um caminho: se o ministério se obstina em não repor a vigência da Nomenclatura, reponhamo-la nós!"

A minha primeira objecção é formal: necessitamos nós que alguém nos diga o que devemos fazer? Reivindico o seguinte: não sou menos do que o João Peres ou o Vasco Graça Moura no que respeita ao meu trabalho.

A segunda é: rejeito liminarmente o "nós" do Vasco Graça Moura.

Muitos professores ensinam há muitos anos. Tem ideias feitas sobre o que é ensinar gramática. Sabem que há contradições de conteúdo e terminológicas que têm com os colegas, os programas, etc. que a Tlebs ambiciona resolver.

Mesmo que quisessem, não poderiam seguir a palavra de ordem do VGM, pelas seguintes razões:
  • Muitos (como eu) só conheceram a Nomenclatura Gramatical de 67, por causa da Tlebs. Apenas sabiam vagamente da sua existência por referências feitas em vários textos.
  • A Nomenclatura não é seguida há mais de 30 anos, nem pelos programas oficiais, nem pelos professores, nem pelos manuais.
  • Que eu saiba, não há nenhum manual ou gramática escolar que cumpra essa Nomenclatura.
  • Lindley Cintra e Celso Cunha não cumprem a Nomenclatura. A gramática destes autores inclui muitos conceitos gramaticais que o Vasco Graça Moura criticou na Tlebs! Nem se percebe por que razão a aconselha.
Se eu me achasse no direito de propor uma palavra de ordem aos meus colegas, o que eu lhes diria, é o que eu faço:
  • Estudem a Tlebs.
  • Se ficarem convencidos da justeza de uma proposta que lá esteja, modifiquem o conteúdo e o modo do vosso ensino, apenas nessa medida.
  • Não caiam no engodo da polarização entre anti-tlebs e pró-tlebs. Isso é uma falsa questão que tem muita coisa escondida.
  • Sobretudo, ensinemos Gramática, com preocupação de actualização científica e adequação pedagógica e didáctica, isto inclui a Tlebs e muitas outras coisas.
05
Fev07

TLEBS: Corrigir e voltar atrás?

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Vem esta questão a propósito da TLEBS, que se diz que vai ser suspensa no próximo ano.
Acontece que, pela leitura da TLEBS, e pela polémica que ela suscitou, encontrei erros no meu ensino da gramática. Confirmei também que algumas das minhas concepções divergentes em relação a vários colegas meus, eram justas.
Vou dar exemplos de apenas três erros (há mais!) que eu não quero fazer.

Sujeito

Diz a gramática do Nunes Figueiredo e Gomes Ferreira (1) que o sujeito é o "o ser ou coisa sobre que se faz uma afirmação". É uma simplificação semântica que se pode eventualmente aceitar como conveniente, em termos didácticos, sobretudo, se depois ensinarmos correctamente como se determina o sujeito. No item seguinte, considera que podem desempenhar a função de sujeito, um substantivo, um pronome, um numeral, ou mesmo, uma frase.
Determinemos então o sujeito nas próprias frases fornecidas pelo autor da primeira gramática que estudei em profundidade (4º ano dos liceus):
1. O cão é um animal doméstico.
O sujeito é "cão".
Se substituirmos o dito substantivo por um pronome a frase fica:
2. Ele é um animal doméstico.
O sujeito passa a ser "ele". Mas repare-se que "ele" substitui o grupo nominal e não apenas o nome.
Vejamos uma frase com atributos e complementos determinativos:
3. O cão do meu amigo parece um animal selvagem.
Neste caso, o sujeito seria igualmente "cão", pois "do meu amigo" seria complemento determinativo. O predicativo do sujeito seria "animal", pois "selvagem"  seria um atributo. Quer dizer, não se considera o sujeito como um grupo de palavras à excepção do caso de uma "oração substantiva".
Esta maneira de considerar a sintaxe da frase, como uma linha sequencial em que os elementos se aglomeram sem qualquer hierarquia que não seja a distinção entre elementos fundamentais e elementos complementares da oração é a que resulta da Nomenclatura de 67 (2) que nunca cumpri no meu ensino.
A maior parte dos professores, suponho, ensina que
- em 1. o sujeito é "O cão";
- em 3.  o sujeito é "O cão do meu amigo".
Esta análise estaria de acordo com a Nova Gramática do Português Contemporâneo de Lindley Cintra e Celso Cunha (3) que está informada com as aquisições da gramática generativa, no que respeita à hierarquia dos elementos da frase, e não é "tradicional" no mau sentido do termo.
Não faz qualquer sentido a utilização da expressão gramática tradicional a não ser para a diferenciar da gramática generativa que se refere à competência linguística do falante. Há uma gramática que se adquire e outra que se ensina e que se estuda e que é uma continuação, um desenvolvimento da primeira e está ligada a usos linguísticos que eu creio mais sofisticados, ligados ao exercício da escrita e da leitura, como preparação para funções sociais cada vez mais exigentes. Ora, a gramática escolar que é uma coisa que se ensina e que é analítica e normativa, nunca foi alheia às aquisições do conhecimento linguístico. Chamar-lhe tradicional pode conotá-la com atraso. A necessidade sentida de criar a Nomenclatura de 1967 e de fazer a TLEBS prova que estamos perante uma realidade dinâmica, em constante evolução.

Predicado

Ainda de acordo com Nunes Figueiredo e com a Nomenclatura de 67, o predicado ou é o verbo ou é o verbo e a qualidade que se lhe acrescenta no caso dos verbos de significação indefinida. Os complementos directo e indirecto, assim como os complementos circunstanciais, são "elementos complementares da oração", não fundamentais, que se acrescentam ao verbo.
Assim:
- em 1., o predicado seria "é animal";
- em 3., "parece animal" (pois todos os outros elementos são complementares).
Vejamos como seria em frases com os complementos acima referidos:
4.  Ele foi para Lisboa.
5. A polícia judiciária do Porto interrogou o presidente do FCP.
6. O escritor dedicou o livro à sua mãe.
Teríamos:
- em 4. "foi" como predicado e "para Lisboa" como complemento circunstancial de lugar;
- em 5., "interrogou" como predicado e "o presidente do FCP" como complemento directo;
- em 6., "dedicou" como predicado e "o livro" e "à sua mãe", como complementos directo e indirecto, respectivamente.
A maior parte de nós ensina que o predicado é:
- em 4., "foi para Lisboa";
- em 5. "interrogou o presidente do FCP";
- em 6., "dedicou o livro à sua mãe".
Note-se que há uma contradição na gramática de Nunes Figueiredo quando reduz o sujeito ao substantivo e, mais à frente, na "transformação passiva" considera como sujeito o grupo nominal inteiro. Creio que foi forçado a isso pela própria lógica da passiva (4). É de acrescentar que esta redução do sujeito ao nome e do predicado ao verbo contradiz a própria definição semântica que dá das duas funções (5).
Conheço colegas que ensinam as duas funções tal e qual como Nunes Figueiredo, com o argumento de que "a gramática generativa acabou".
Para a TLEBS, fazem parte do predicado, os complementos e os modificadores do verbo e do grupo verbal. Antes de ter lido a TLEBS, predicado e grupo verbal eram a mesma coisa para mim, embora sob uma perspectiva diferente. Resumindo: só incluía no predicado os elementos obrigatórios, exigidos pelo verbo.
Alteremos 5. para exemplificar:
7. Ontem, a polícia judiciária do Porto interrogou o presidente do FCP.
Neste caso, eu não incluiria "ontem" no predicado. Com efeito, "ontem"  modifica o grupo verbal, mas não faz parte dele, pois não é exigido por "interrogou" que apenas exige um complemento directo. Depois de analisar a árvore da frase, cheguei à conclusão que a TLEBS estava certa. Em termos didácticos, também é mais simples dizer que é tudo o predicado. Além do mais a TLEBS coincide com Cintra e Cunha (6)

Subordinante e subordinadas

Outra mudança que eu acho que se impõe foi colocada pelo João Peres como uma crítica à TLEBS. Eu considero-a inteiramente justificada. Tudo se resume ao seguinte: as orações que desempenham funções sintácticas fundamentais da subordinante, integram-na.
Vejamos:
8. O Público diz que ontem a polícia judiciária do Porto interrogou o presidente do FCP.
Neste caso, não podemos considerar "O público diz" como subordinante porque esta expressão não é uma frase, pois falta-lhe o complemento directo que é "que ontem a polícia judiciária do Porto interrogou o presidente do FCP".
Penso que, em geral, a lógica está do lado da didáctica. Quanto mais lógico, mais simples. Se distingo frase (ou oração, se quiserem) de não-frase, não vou depois infringir a regra dizendo que uma expressão sem sujeito ou sem complemento directo é uma "oração" ou frase "subordinante". Duma forma geral, a falta de lógica apela ao decorar daquilo que o professor enuncia.
Agora pergunto: que autoridade tem o direito de me obrigar a ensinar coisas erradas que nem didacticamente se justificam? Mais: quem pode exigir aos professores formados pela TLEBS, que voltem a ensinar erradamente?

NOTAS

(1) Nunes Figueiredo, J. M., e Gomes Ferreira, A., Compêndio de Gramática Portuguesa, Porto, Porto Editora, 1975, p. 53.
(2) Nomenclatura Gramatical Portuguesa, Portaria nº 22664, Diário da República, I Série, 28 de Abril de 1967.
(3) Cintra, Lindley e Cunha, Celso, Nova Gramática do Português Contemporâneo, Lisboa, Sá da Costa,1992,  p. 122.
(4) Nunes Figueiredo, J. M., e Gomes Ferreira, A., p. 62
(5) Idem, p. 55.
(6) Veja (3)
Para a análise do João Peres referida acima, por favor, veja  http://jperes.no.sapo.pt/
26
Jan07

João Peres, de novo

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O último artigo do João Peres no Expresso é de uma arrogância extraordinária. Põe na discussão da TLEBS, à falta de melhor, as relações de parentesco de um dos revisores com uma das autoras. Dá-se ao atrevimento de avaliar a inteligência de uma pessoa, no caso, do João Costa, pela escala da frequência de uma das suas cadeiras. Isto é, reduz o Presidente da Associação Portuguesa de Linguística a seu ex-aluno, com a pretensão óbvia de subalternizá-lo: ele é o Mestre, o outro, um produto do seu magistério! É como se dissesse: "ele é inteligente porque eu, a excelência em pessoa, dei-lhe 19!"
Tais considerações, num debate entre pessoas que se respeitam, nos estatutos que  têm, nunca deviam ser enunciadas e, muito menos, vir a público, a esse propósito.
Tendo em conta as apreciações eminentemente positivas que o João Peres teceu a propósito da TLEBS, em http://jperes.no.sapo.pt/, num ensaio em que a conclusão não joga com os argumentos, nem com as solidariedades que afirma, é estranho o apelo ao regresso à Nomenclatura de 1967.
Nenhum dos argumentos da Alzira Seixo ou do Vasco Graça Moura é validado. Muito pelo contrário, são todos ou rechaçados ou desvalorizados.
Nesse ensaio de http://jperes.no.sapo.pt/, tive a oportunidade de confirmar algumas das minhas dúvidas a respeito do ensino da sintaxe, como por exemplo, a consideração de que se devem classificar  as frases subordinadas como integrantes da subordinante, nos casos em que desempenham funções sintácticas daquela. As árvores de frase que fazíamos sempre sugeriram isso! Por isso, João Peres criticou, muito justamente, a definição da subordinante como residual relativamente às subordinadas.
Mas esta crítica, que avança muito mais no plano linguístico do que a TLEBS se atrevera, encontra-se acompanhada apenas de reparos superficiais, porque no essencial, João Peres discorda dos que gritam contra a mudança de "nome" para "substantivo", ou que choram por causa do fim dos "complementos circunstanciais". Muito pelo contrário, concorda com a inclusão dos seguintes conceitos:
- a classe dos quantificadores,
- tipos de frase,
- função de modificador,
- etc. para referir alguns dos conceitos mais polémicos para outros intervenientes.
Pelas premissas e conclusões científicas daquele ensaio, seria de esperar a proposta de alterações à lista de termos da Portaria, se fosse o caso, e às definições que constam do dicionário.
É deveras caricato que um cientista que prima pela agressividade teórica e, que, pelos vistos, a completa com argumentos de ordem pessoal, venha propor o regresso ao "antigamente" e não a correcção do que, com erros, vem resolver problemas antigos.
João Peres esperava que, no pós 25 de Abril, e nos anos seguintes, os professores de Português, se cingissem a uma portaria de 1967!
Pois não o fizemos nunca e os professores universitários, que nos formaram, ensinaram-nos teorias mais acertadas cientificamente e doutrinas pedagógicas mais ousadas e mais generosas. Nem a Gramática... de Lindley Cintra e Celso Cunha se atém à Nomenclatura, apesar de ser na leitura desse texto que eu dei conta da sua existência. É verdade que a minha Gramática do 4º ano do liceu do Nunes Figueiredo assevera estar de acordo com "a nova nomenclatura gramatical portuguesa", mas isso, só agora tem sentido para mim .
O problema é que já há muito tempo que nós não respeitamos essa portaria e foi por isso que surgiu a necessidade de uma nova.
A conversa da soberania do Estado sobre a Língua é espantosa, pois em minha opinião, um Estado de Direito não deve ter nenhum documento legal a definir conceitos científicos, quer sobre a língua quer sobre qualquer outra realidade. O que está aqui em causa é apenas uma necessidade prática do Ensino Básico e Secundário de unificar a terminologia gramatical para efeitos de avaliação externa das competências dos nossos alunos e também para evitar erros no seu ensino.
Reconheço que esta medida tem implicações, uma vez que outros sectores, como a imprensa, por exemplo, acabarão por aceitar essas mudanças terminológicas e conceptuais, por causa da Escola. Portanto, elas devem ser tão justas e adequadas quanto possível.
Mas João Peres está a sugerir que eu ensine aos meus alunos que o predicado ou é o verbo no caso do predicado verbal, com verbos intransitivos, ou é o nome ou o adjectivo no caso do predicado nominal, com verbos copulativos. É o que está na minha gramática de 1972, que cumpre a Nomenclatura! Mais: sei que há professores que, como felizmente não têm formação linguística, ensinam o predicado como eu aqui referi. Se é a essa conclusão que o Professor João Peres quer chegar, por favor, proponha que, na sua universidade, seja retirado, do currículo da formação de professores de Língua Portuguesa, esse veneno que dá pelo nome de Linguística!
02
Jan07

Predicativo do sujeito

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Eu não estava a ser exacto quando, em resposta à colega Inês Pinto, nos comentários a Carta ao Sr. José Nunes, promotor de uma petição para revogação da TLEBS, afirmei o seguinte:
"À partida, não concordo com o dicionário da Terminologia Linguística, quando admite um sintagma preposicional como predicativo do sujeito. Para mim, tem de ser um Sintagma Nominal ou um Sintagma Adjectival."
Descobri isso ao encontrar na gramática do Lindley Cintra e Celso Cunha um exemplo de predicativo do sujeito do seguinte género:
(1) O homem estava entre a vida e a morte.
A parte da frase assinalada a itálico seria para mim um predicativo do sujeito aceitável.
As minhas objecções eram na verdade de ordem semântica e não sintáctica.
Também, perante uma frase como a seguinte,
(2) O carro é do meu pai,
eu não teria dificuldade em aceitar o grupo assinalado com predicativo do sujeito, porque reconheceria aí a transformação do grupo nominal "o carro do meu pai" numa frase em que o verbo copulativo se limita a fazer uma ligação.
Concluí, então, que tinha caído no mesmo tipo de armadilhas que denuncio ao criticar os colegas que dizem aos alunos que o sujeito é "aquele que realiza a acção". Se, em vez de (1), a frase fosse
(3) O homem estava entre o Rossio e os Restauradores,
eu diria erradamente que estava perante um verbo locativo e um complemento preposicional, mas a frase tem exactamente a mesma estrutura da anterior.
A minha dificuldade compreende-se por quase não aparecerem nas gramáticas casos de grupos preposicionais como predicativo do sujeito e, ainda menos, com o significado de lugar, como era o caso em apreço. Mesmo no meu exemplar da Gramática... da Maria Helena Mira Mateus, os exemplos de predicativo do sujeito são grupos nominais ou grupos adjectivais.
Mas agora parece-me aceitável que qualquer complemento preposicional que se ligue ao sujeito através de um verbo copulativo, seja um predicativo do sujeito. O que está em causa é o tipo de ligação que o verbo realiza. Com efeito, se iniciarmos uma frase da seguinte maneira
(4) Camões esteve...,
as perguntas possíveis são as mais diversas - ONDE? COMO? O QUÊ? - e o tipo de grupos que lhes podem responder são também dos mais variados - grupos nominais, adjectivais, adverbiais e preposicionais, revelando, portanto, a significação indefinida do verbo.
Se o início da frase fosse
(5) Camões morou...,
a pergunta suscitada seria apenas ONDE? e a resposta um complemento preposicional de lugar.
 Portanto, em "Camões esteve em Macau", "em Macau" é predicativo do sujeito.
20
Dez06

Fraccionários

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Na minha leitura do ensaio de João Peres sobre a TLEBS, eu especulava:
«Quanto aos fraccionários que ele considera que se deveriam incluir, também eu andei de volta deles. Concluí que não estavam considerados como subclasse por não serem palavras, mas grupos nominais. Quando dizemos "um quarto dos alunos", "quarto" parece ser um nome.»
Contra esta minha observação, interveio tempodividido, com mais um dos seus elípticos, mas produtivos, comentários:
«E em: "cada vez que" - exemplo, na TLEBS, de conjunção subordinativa temporal no domínio das classes de palavras - "vez" parece-lhe o quê?»
Fui assim levado a reconsiderar a possibilidade de os fraccionários serem uma subclasse dos quantificadores, como locuções:
«
Não há a menor dúvida que há argumentos sólidos para questionar a ausência dos fraccionários, entre os quantificadores... Seriam locuções, então...»
Tenho agora nas minhas mãos a recente Gramática de Clara Amorim e Catarina Sousa, com apoio científico de Mário Vilela e Alina Vilalva, publicada pela Areal. Na página 198, reproduzem-se argumentos similares aos meus para rejeitar a inclusão dos fraccionários e dos multiplicativos na classe dos quantificadores:
- em "um quarto de litro de vinho", "quarto" é um nome;
- em "meio frango", "meio" é um adjectivo.
- em "dei-te o dobro do tempo para fazeres o teste", "dobro" é um nome.
(Estes exemplos são meus, mas feitos de acordo com os da referida gramática)
17
Dez06

Artigo a metro do Sr. José Júdice

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Num artigo, publicado no jornal Metro, lido por milhares de pessoas no dito meio de transporte, o Sr. José Júdice resolveu também pôr a sua colherada na Tlebs. Que melhor objecto erótico-sentimental poderia ele encontrar para preencher o seu espaço de prosa dedicada a milhares de encarregados de educação que por aquele meio de transporte transitam? Depois de dissertar sobre as experiências dos nazis nos campos de concentração, que coisa mais tlebática poderia haver, foi o senhor José Júdice, com um entreolhar malicioso para o leitor, procurar um exemplo similar do que no tempo dele fazia rir a juventude, umas passagens dos Lusíadas, talvez, adivinhemos, o Canto IX. Que coisa tlebática teria esse potencial erótico? Adivinhe, caro leitor! Nada mais, nada menos que o termo "conjunção coordenativa copulativa". Quando li isto fartei-me de rir porque, imaginem, dei por mim a colocar aqui o Sr. José Júdice a cu pular com o "e" e o "também", não fosse o termo "cópula" ser desconhecido da generalidade dos leitores do Metro. Talvez não seja esse o caso e aconteça que muitos dos seus leitores se lembrem de ainda na década de 70 estarem a decorar as conjunções coordenativas copulativas para um teste de Português.
17
Dez06

Carta ao Sr. José Nunes, promotor de uma petição para revogação da TLEBS

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(O texto, ao ser aqui editado, sofreu algumas modificações de forma)

A sua petição leva-me a colocar as seguintes observações:
 
- a Terminologia Linguística vem-nos dizer quais são os termos gramaticais mais adequados, direi mesmo, mais certos.
- a Terminologia Linguística foi experimentada antes de ser generalizada.
- quando se faz uma experiência pedagógica, não há "cobaias", há apenas a experiência que todos temos que fazer em todas as coisas na vida, essa coisa que muitos quereriam perene, mas que também acaba um dia, com melhores ou piores experiências.
- a Nomenclatura Gramatical de 1967 está actualmente errada. Continuar a aplicá-la é impossível para mim, porque estudei e sei que está errada. Não ensino coisas que sei erradas aos meus alunos. Há mais de 20 anos, que estamos quase todos ilegais!
- dou-lhe exemplos de coisas que quase todos os professores do 1º e do 2º ciclo ensinam que contradizem a NGP de 67: artigos, possessivos e demonstrativos como petencentes à classe dos determinantes; grupo nominal, grupo verbal e grupo móvel; frase simples e frase complexa.
- além disso, há imprecisões conceptuais e rupturas no ensino da gramática que a TLEBS vem resolver. Por exemplo, devido a uma lacuna programática no 2º ciclo, há professores que dizem que o predicado é o verbo; outros que dizem que o predicado é o verbo com os seus complementos (obrigatórios ou acessórios). Exemplifico:
Na frase,
"O governo revogou a Tlebs",
(1) uns dirão que o predicado é "revogou";
(2) outros dirão que é "revogou a Tlebs"
Os que optam por (2) estão de acordo com o que os professores do 1º ciclo ensinaram sobre os grupos de palavras da frase, já referidos acima, nominal, verbal e móvel. Os que optam por (1), entram em ruptura com o 1º ciclo. É como se dissessem: esqueçam isso do grupo móvel, do verbal e do nominal que isso agora não interessa para nada.
Quem tem razão? Agora o senhor julgue. Trata-se de gramática muito simples:
  • O verbo "revogar" exige um complemento.
  • "Revogar" é revogar "alguma coisa" que se acrescenta ao verbo.
  • É isso mesmo, o complemento directo, "a Tlebs" tem que fazer parte do predicado, porque é um grupo de palavras que está agarrada ao verbo.
Mas o senhor, com esta petição, quer que a má experiência continue.
 
Vale a pena continuar uma má experiência?
 
Reconheço que a intervenção da Professora Maria Helena Mira Mateus nesse programa da Antena 2 cria confusão. Além de não responder de uma forma assertiva a algumas das questões colocadas pelo jornalista - tenho a certeza que poderia fazê-lo -, revelou insegurança, quanto a mim injustificada.
 
Por exemplo, a propósito da distinção entre complementos e modificadores, peço-lhe que verifique se o seguinte trabalho é ou não é exequível para os alunos do 3º ciclo.
 
  • Vamos analisar a frase "Camões esteve em Macau".
  • "Em Macau" é um complemento ou um modificador?
  • É um complemento se o verbo exigir a sua colocação. É um modificador se o seu acrescento for opcional e não obrigatório.
  • "Em Macau" é um complemento porque o verbo "estar" exige um grupo de palavras à sua direita.
 
Agora teste a antiga NGP:
  • Acha que "em Macau" é uma circunstância de lugar de "estar"?
  • O que significa "estar" sem especificação de lugar ou qualidade, ou tempo, ou o que quer que seja?
  • Ele exige um complemento para significar alguma coisa!
  • Repare que a palavra "circunstancial" significa "acessório", "facultativo".
  • Por um lado, temos o acontecimento, por outro, temos circunstâncias de "tempo", "lugar", "modo" e um número quase ilimitado de outras "circunstâncias" (Como me lembro de tentar decorá-las! Companhia, instrumento, intenção, finalidade, causa, etc.)
 
Não tenho a menor dúvida que na frase abaixo, "em Macau", seria aceitavelmente, um complemento circunstancial de lugar, isto é uma circunstância da acção:
 
"Camões escreveu parte dos Lusíadas em Macau."
 
Seria um modificador, diríamos hoje, uma vez que reservamos a palavra "complemento" para as palavras que respondem a uma exigência do verbo.

Penso que, neste debate, todos podemos entrar desde que tenhamos a humildade de ouvir e testar os argumentos de todas as partes. É impossível intervir sem tratar da coisa propriamente dita: a gramática.
11
Dez06

João Peres apresenta uma crítica da Terminologia

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(Agradeço ao Paulo Prudêncio esta referência).
João Peres, linguista da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, apresenta um extenso ensaio de crítica da TLEBS. Para o ler, vá a http://jperes.no.sapo.pt/peres_elementos_tlebs.pdf.
Prefiro, por agora, fazer observações pontuais, na difícil digestão desta leitura.
1.João Peres concorda com a introdução da classe dos quantificadores, mas faz críticas contundentes à definição das subclasses e à inclusão de certos determinantes indefinidos  e relativos (como "certo", "outro", "cujo"). Não sei se tal problema não decorrerá da prioridade dada a critérios diferentes (comportamento sintáctico versus semântico). Parece-me evidente a dificuldade em explicar a um aluno que "cujo" quantifica o que quer que seja.  Mas, por outro lado, em certas expressões "certos", não nos diz, que, pelo menos, não são todos?
Quanto aos fraccionários que ele considera que se deveriam incluir, também eu andei de volta deles. Concluí que não estavam considerados como subclasse por não serem palavras, mas grupos nominais. Quando dizemos "um quarto dos alunos", "quarto" parece ser um nome.
2. Nas páginas 21 a 23 do documento PDF acima referido, João Peres critica imprecisões conceptuais das definições de subordinante e de subordinada. Concordo inteiramente com ele, mesmo numa perspectiva sintáctica, generativa, pois a subordinação faz-se frequentemente em relação a um dos constituintes da frase e não relativamente à própria frase.
(1) Os alunos que tiveram positiva no último teste estão dispensados do trabalho final.
A frase assinalada está subordinada a "os alunos" pois, a frase "os alunos estão dispensados do trabalho final", pura e simplesmente não existe.
Quero dizer que eu sempre entendi isto assim, pelas próprias árvores das frases.
(2) Não me agrada que andes à chuva.
A frase assinalada é o sujeito da frase como um todo. A frase "não me agrada" não é frase nenhuma, portanto não pode ser subordinante.
Tanto em (1) como em (2), a subordinante é a frase toda.
Gostaria de saber o que diriam as linguistas que fizeram a TLEBS, a respeito da crítica de Peres, nestes dois casos. A objecção da simplificação didáctica não é aceitável aqui, dada a complexidade de algumas definições da TLEBS. Entretanto, vou continuar a ler o texto de Peres, com a seguinte curiosidade em mente: "Que TLEBS faria ele?"
A minha problemática não se situa entre TLEBS, objecto que ainda estou a digerir, e não-TLEBS, mas sim em "Como ensinar gramática da língua portuguesa, hoje?". A este respeito, tenho-me entretido a comentar o que a TLEBS e os seus críticos dizem.

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