Dizia o Sr. Embaixador do Egipto em Portugal que o que se passava no Egipto não tinha qualquer relação com um efeito dominó a partir da Tunísia. Provavelmente, queria dizer que temia o tal efeito dominó. Pois que ainda não o é parece evidente: ainda só caiu um pedra. Enquanto não houver uma sequência de outras a cair, estaremos na expectativa.
Uma especialista com um ar muito douto explicava na SIC Notícias que o caso da Tunísia nada tinha a ver com o que se passara com o leste europeu, após a queda da URSS, com as chamadas "democracias populares" a desfazerem-se como um castelo de cartas. Não haveria aqui, no Norte de África, uma potência dominante, cuja desgraça arrastasse as outras.
Será que o único efeito dominó que ela conhecia era o do dito "socialismo científico"?
A queda das ditaduras da Europa mediterrânica não começou com a queda dum grande estado. Começou num pequeno rectângulo chamado Portugal em 25 de Abril de 1974! A junta militar grega acaba em Julho de 1974 e a Espanha franquista começa a sua transição para a democracia em 20 de Novembro de 1975.
Podemos lembrar outras ondas políticas ou "efeitos dominó": queda dos países socialistas africanos, nos primeiros anos da década de 90 (não são só as ex-colónias portuguesas que se rendem ao multipartidarismo e à economia de mercado - S. Tomé e Príncipe, 1990, Cabo-Verde, 1991, Angola, 1991, Moçambique, 1994, Guiné-Bissau, 1994 -, mas também, Guiné-Conacri, 1993, R.D. Congo, 1992, depois, a Etiópia, a Somália e a Tanzânia, com outros insucessos, mas a sair do marxismo-leninismo que tinham imposto aos seus povos.
Poderíamos falar de outros dominós.
Se coube a Portugal a honra de iniciar um efeito dominó democrático em 1974, cabe agora à Tunísia, o mais pequeno país do Magreb, a honra de inciar a democracia árabe. A profecia é fácil de fazer: Egipto, queda do regime de Mubarak, queda dos regimes militares da Argélia e da Líbia e monarquia constitucional democrática em Marrocos. Para lá do Suez, não sei como será.
O povo ergue-se e impõe o seu bom-senso, os radicalismos tentarão aproveitar a situação. A norte da pequena bacia mediterrânica, fora o comunismo vencido pela social-democracia. Aqui será também a social-democracia a vencer o fundamentalismo islâmico.