Metas de aprendizagem - extensão e complexidade
Parece-me que há um problema com a extensão e repetição de fórmulas que afasta o utilizador das metas de aprendizagem. Constata-se logo, numa primeira observação, a enorme quantidade de itens e hierarquias entre as diversas metas. Pelo articulado, depreendo que tal profusão se deve à intenção de inserir nas metas todos os passos da aprendizagem. Acharia mais útil que esta informação estivesse à parte como orientação metodológica aqui e nos próprios programas oficiais.
Exemplifico. Desenvolver a consciência fonológica é um passo essencial e também uma consequência da aprendizagem da leitura, como numerosos estudos - de que lembro alguns do professor Alexandre Castro Caldas - provam. Mas as metas de aprendizagem estão na consciência fonológica ou na leitura e na escrita?
A desgraça da leitura foi o desprezo pela fonologia nos métodos de aprendizagem idealizados nos anos sessenta pelo construtivismo, que se baseavam na ideia da descoberta da escrita, expressão de um estudo célebre desta área que é o de Ferreiro e Teberovski (ver FERREIRO, Emília e TEBEROVSKI, Ana. Psico-gênese da Língua Escrita. Porto Alegre: Artes. Médicas, 1986), em que o sentido e o contexto (o global) dominavam a aprendizagem inicial da leitura esquecendo que os nossos sistemas de escrita alfabética não se fundamentam essencialmente nisso.
O resultado era haver aprendentes que não conseguiam dar o salto da leitura de frases e palavras inteiras conhecidas para palavras novas ou pseudo-palavras. Enfim, não dominavam a técnica da decifração nesta arte milenar que remonta aos antigos fenícios.
A haver metas para a leitura no 2º e no 4º ano de escolaridade seria a descrição ,num pequeno trecho, do desempenho da leitura que se deve esperar no final desses anos e não todos os passos. Parece que se receia que o professor não trabalhe ambas as vias de acesso à escrita: as unidades distintivas (fonemas e grafemas) e as unidades significativas (palavras e frases).
Parece-me que esta obsessão de pôr a metodologia em tudo torna mais difícil a utilização das metas de aprendizagem.
Eis o articulado que referi:
-
Consciência Fonológica
O aluno suprime, acrescenta ou troca sons (fonemas) numa das sílabas da palavra.
O aluno reconstrói palavras por combinação de sons da fala (fonemas).
O aluno segmenta fonemicamente qualquer palavra.
O aluno conta os sons (fonemas) de cada sílaba das palavras.
O aluno produz palavras e pseudo-palavras através da manipulação de sons da fala (fonemas).
O aluno identifica mudanças nas sílabas ou nas palavras por substituição, supressão ou adição de um som da fala (fonema).
O aluno identifica grupos consonânticos no interior da palavra.
O aluno identifica grupos consonânticos em posição inicial de palavra.
O aluno altera o acento da palavra gerando nova palavra ou pseudo-palavra.
O aluno identifica a sílaba tónica.
O aluno identifica as sílabas que estão antes e depois da sílaba tónica.
Reconhecimento e Escrita de Palavras e Letras
O aluno ordena alfabeticamente palavras.
O aluno identifica e escreve todas as letras maiúsculas e minúsculas do alfabeto.
O aluno faz a correspondência som/grafema para todas as letras do alfabeto e todos os dígrafos.
O aluno soletra (as letras de) palavras dissilábicas.
O aluno reconhece globalmente palavras frequentes e menos frequentes.
O aluno reconhece globalmente palavras frequentes.
O aluno reconhece os grupos consonânticos mais frequentes do português.
O aluno usa o conhecimento de sequências gráficas frequentes para ler palavras desconhecidas (e.g.: casa/casamento; lê/relê).
O aluno usa a correspondência letra/som para ler palavras desconhecidas.
O aluno usa o conhecimento das sílabas para decifrar palavras desconhecidas.
O aluno escreve palavras e frases.
Não creio que um documento desta extensão possa ser considerado estanque. Acho que a prática deve conduzir à sua reformulação. Aqui fica posta a público esta observação de alguém que tenta honestamente utilizar as metas de aprendizagem.