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Sem Rede

"Sobre aquilo de que não conseguimos falar, é melhor calarmo-nos." (Was sich überhaupt sagen lässt, lässt sich klar sagen; und wovon man nicht sprechen kann, darüber muss man schweigen) - Wittgenstein.

"Sobre aquilo de que não conseguimos falar, é melhor calarmo-nos." (Was sich überhaupt sagen lässt, lässt sich klar sagen; und wovon man nicht sprechen kann, darüber muss man schweigen) - Wittgenstein.

Sem Rede

15
Jan23

A dança das cadeiras

Redes

Era dia da escola ir ao teatro. Estava tudo acertado entre o Teatro, a escola e os professores. Infelizmente, já na bilheteira, houve um pequeno problema. Por erro da funcionária, duas turmas estavam a mais. - A culpa é minha, digo-o com toda a franqueza, tenho de me responsabilizar inteiramente pelo sucedido - repetiu a funcionária a sorrir, com tanta ênfase que parecia estar orgulhosa dessa capacidade de admitir os próprios erros. Essa franqueza, essa abertura, não deixava lugar para qualquer crítica. Tornava-a escusada, redundante, inútil, sem força para fazer o seu caminho contra um muro que se desvanecia por si próprio. Ela tinha dado baixa das duas turmas erradamente, por alegadas dificuldades de transporte. O certo é que as duas turmas apareceram com a casa já cheia, a abarrotar, com as que as substituíram. - O problema agora é como pôr os alunos sentadinhos lá dentro. Também não podemos mandar as turmas a mais embora, coitados, pois não têm culpa nenhuma do sucedido, e com cerca de trinta quilómetros de viagem a Lisboa, para nada!? Por isso, tenho solicitado aos professores, se não se importavam de ficar em pé durante o espectáculo. Atenção, não levem a mal, era só um pedido, não era uma exigência. Com cerca de dois professores por turma em pé, haveria lugar para os meninos se sentarem. Os professores são sempre a parte que pode dar um jeitinho, aquela onde ainda existe alguma folga. Os professores ali presentes compreenderam. Uns puseram em questão a medida em comentários laterais, mas não frontais. Certo, certíssimo, é que ninguém se escandalizou com a proposta. Outrora tínhamos um Professor muito bem sentado na Cadeira do Poder. Nesse tempo, os professores ganhavam mal, talvez menos do que hoje. Mas quando alguém falava deles era de "Senhor Professor" para cima. Alguns tinham outros títulos entre "professor" e o nome próprio, mas, para todos, era de professor com P maiúsculo que se tratava. A contrabalançar o montante irrisório do salário, estava o poder pedagógico ou académico e o prestígio da sabedoria, à imagem do Colega que, na sua Cadeira, se mostrava como símbolo da sapiência, do comedimento, da poupança e da austeridade. Um dia, o Senhor Professor caiu da Cadeira e, desde então, vingou o jogo das cadeiras, pois deixaram de estar bem claras as prioridades, as hierarquias que convêm ao acto de bem sentar. A sociedade democratizou-se, os professores descobriram-se e declararam-se trabalhadores, como todos os outros, multiplicaram-se por milhares, reivindicaram e bateram o pé. De "Senhor Professor" ou "Senhor Doutor", personagem tutelar, ao nível do médico ou do padre da aldeia, o professor evoluiu para o "setor", forma envergonhada de dizer a ausência de título adequado. Ali à entrada do teatro éramos o velho com a criança, sem saber o que fazer com o único lugar disponível no burro. Podia ser que pensassem que a idade de vários dos professores suportaria mal uma hora e meia em pé. Haveria que ter em atenção as dores nas costas e nas pernas dos que já ultrapassaram o auge da idade. Então poder-se-ia sugerir que alguns alunos se sentassem nos degraus do balcão ou da plateia, tão habituados estão a sentar-se em qualquer lugar. Mas não, são as crianças, que estão à nossa guarda, que têm a primazia, são elas que devem ter o lugar no burro. Os velhos que sigam a pé.

Publicado a 14 de Maio de 2015.

16
Set10

A começar pelo princípio

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António Barreto e Nuno Crato querem falar de Educação, "a começar pelo princípio", num ciclo de conferências, noticiado pelo Educare. Nela participa o filósofo Fernando Svater, o autor de O Valor de Ensinar e várias personalidades, cujos nomes aqui ficam para futura referência:

  • Ricardo Moreno Castillo, um professor de Matemática madrileno,autor de De la buena y de la mala educación;
  • Michel Fayol, um psicólogo francês que tem produzido estudos científicos muito valiosos sobre a maneira como se aprende matemática;
  • Roger Beard e Linda Siegel, especialistas no ensino da leitura

Na entrevista ao Educare, Nuno Crato enfatiza as ideias que já lhe conhecemos:

  • A motivação não é um pressuposto inicial da aprendizagem
  • A compreensão crítica não deve ser um objectivo primordial e não se opõe à memorização e ao treino
  • O ensino não se deve basear preferencialmente no contexto cultural ou vivencial dos alunos
  • Deve-se insitir na a generalização e na abstracção e não restringi-las.
  • Os docentes são os agentes decisivos do ensino e têm sido menosprezados e desautorizados
  • A avaliação dos professores não deve ser feita independentemente da avaliação dos alunos
  • Predominam crenças infundadas no valor da "vivência dos alunos", da "autoconstrução" da aprendizagem, do "ensino em contexto", das actividades e das "investigações"

Veja, se quiser, mas não diz muito mais do que escrevi: Educare, "Começar pelo princípio"


19
Out06

Porque fiz greve

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Há várias razões que me levaram a fazer greve, na sua maior parte comuns às da maioria dos outros professores, mas suspeito que nem todos tem exactamente os mesmos motivos. Por exemplo, não fiz greve por causa:
- do aumento da componente lectiva que resultou da contabilidade dessas horas deixar de incluir os cargos, o trabalho na Biblioteca, as aulas de apoio, etc. No meu caso, foram 6 horas a mais de trabalho diversificado que tenho que fazer na escola, para além do trabalho de preparação de aulas, de avaliação de trabalhos dos alunos, de preparação de materiais, etc. que faço frequentemente a desoras. Acrescento que os cargos que tenho implicam ainda mais trabalho em casa para serem desempenhados com um mínimo de rigor.
- dos insultos à nossa classe pela senhora ministra da educação, pois a minha dignidade profissional não depende nem dos elogios nem dos insultos da responsável pela pasta da educação. E sou indiferente à electrizante e infantil resposta que muitos professores endereçam à ministra.
- do aumento da idade de reforma que parece que é para toda a gente, embora haja uns que perdem mais do que outros.
Fiz greve porque, para além destas mudanças, a senhora ministra, quero dizer, o governo, querer ainda impor-nos:
- um sistema de avaliação equívoco, com critérios de excelência burocráticos e duvidosos e com intervenientes que por definição não têm competência para tal.
- uma progressão na carreira limitada por vagas artificiais.
- um processo de negociação em que os nossos representantes sindicais são mal ouvidos de tal maneira que parece a greve ter sido convocada pelo Ministério ao nos sugerir indirectamente que a façamos para provar que os sindicatos nos representam realmente.
Estamos num momento de dificuldades financeiras para o país e parece que quem não se defender levará a pior parte nos sacrifícios que estão a ser pedidos aos portugueses.
27
Set06

Salários em relação ao PIB

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Um estudo da OCDE concluiu que os professores portugueses ganham muito relativamente ao PIB do país. Esses números têm estado a ser utilizados na comunicação social como arma de arremesso contra a classe docente.

Quem o faz esquece-se de si próprio, isto é, não coloca o seu próprio vencimento em questão  confrontando-o com o PIB. Como ficariam os vencimentos dos políticos portugueses e de outras pessoas que vivem à custa do orçamento de estado, como é o caso dos gestores públicos e dos magistrados - classes que funcionam como vasos comunicantes da classe política - , se comparados com os de outros países relativamente aos respectivos PIB? Seria interessante que tais dados fossem apresentados. Ouvimos, por exemplo, que o salário secreto de Victor Constâncio supera em valor absoluto o do presidente da Reserva Federal dos EUA. Se pusermos isso em relação ao PIB, talvez concluamos que o governador do nosso Banco Central ganha o triplo do seu colega americano! Ora, ninguém mais do que este senhor se tem esforçado no sentido de impedir o incremento salarial dos funcionários públicos!

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