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"Sobre aquilo de que não conseguimos falar, é melhor calarmo-nos." (Was sich überhaupt sagen lässt, lässt sich klar sagen; und wovon man nicht sprechen kann, darüber muss man schweigen) - Wittgenstein.

"Sobre aquilo de que não conseguimos falar, é melhor calarmo-nos." (Was sich überhaupt sagen lässt, lässt sich klar sagen; und wovon man nicht sprechen kann, darüber muss man schweigen) - Wittgenstein.

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07
Jan11

Nascer no local e no momento errados

Redes

Artigo do Educare: Nascer em Janeiro ou em Dezembro faz diferença.


Uma recente pesquisa demonstra que os franceses que nascem em Dezembro têm menos sucesso escolar do que os que nascem em Janeiro.

O estudo vai mais longe, pois demonstra que há uma correlação significativa entre estatuto social e dia de nascimento. São sobretudo as mulheres de famílias de agricultores que têm filhos no final do ano. As professoras franceses tendem a ver os seus filhos chegar ao mundo na luz da Primavera.

Uma explicação racional para este facto estará na maturidade intelectual. As crianças que entram na escola em Dezembro serão as mais novas por a lei definir o ano de entrada na escola como aquele em que as crianças cumprem seis anos de idade. Assim, a diferença na idade de entrada atinge o máximo nas crianças que fazem anos em Dezembro, pois 11 meses as separam das que nascem em Janeiro. O facto estatístico do maior insucesso escolar destas crianças deveria constituir por si só um forte aviso contra os pais que antecipam a entrada na escola dos filhos que nascem em Janeiro. A pesquisa demonstra genericamente que os mais novos a entrar na escola têm menos sucesso.

Isto coincide com a evidência dada pelos testes Pisa em que se verifica que vários dos países com melhor desempenho são de sistemas em que a entrada na escola é feita aos 7 anos. Ora, essas crianças que entram mais tarde na escola, provam aos 15 anos, idade dos testes, terem mais sucesso do que as que entraram mais cedo e vão fazer os testes com, eventualmente, mais um ano escolar.

Pode ser que se dê o caso dos professores com crianças mais novas estarem a remar contra a maré, a forçar crianças a aprender coisas da mesma maneira do que crianças quase um ano mais velhas. Um ano, em tenras idades, é todo um mundo de experiência de vida, de crescimento e de estruturação neuronal.

Esta diferença torna-se especialmente grave em programas de ensino rígidos, centrados nas matérias e não nos aprendentes. Sendo eu um defensor da existência de um currículo universal, parece-me que a progressão deve ser adaptada ao aluno. A sua integração em grupos de estudo, a que vulgarmente se chama turmas, deve ter em consideração o que ele já aprendeu antes.

Ora, a escola francesa é muito rígida a este respeito. Cada ano de escolaridade tem um programa que o aluno tem de cumprir. Quem não o consegue, fica inevitavelmente atrasado, quem o cumpre mediana ou mediocremente, tende a ficar medíocre para a vida toda. Essa rigidez está expressa nas próprias designações dos anos de escolaridade:

    • 1º ano CP (Cours preparatoire)
    • 2º ano C.E.1 (Cours Elémentaire 1ère année)
    • 3º ano C.E.2 (Cours Elémentaire 2ème année)
    • 4º ano C.M.1 (Cours Moyen 1ère année)
    • 5º ano C.M.2 (Cours Moyen 2ème année)

Estas designações definem uma lógica conteudística na aprendizagem que marcam negativamente aqueles que não conseguem acompanhar este caminho pré-concebido.

A ideia de que se fracassa num certo ano de escolaridade pressupõe que há um desenvolvimento a que todos têm que se adaptar - nem mais nem menos. Impõe a mediania tanto aos mais fracos e aos que chegam demasiado cedo como aos melhores e que chegam na hora certa.

A numeração invertida dos anos em que o 1º é o 11ème e o 5º o 7ème, torna mais flagrante o fracasso de quem não consegue chegar à "premiére". Recordo-me da nossa confusão com o célebre texto de Marcel Pagnol que estudávamos precisamente no nosso 2º ano do ciclo preparatório em que a personagem entrava no seu "sixième" que era, para ele, o primeiro do liceu, mas que correspondia ao nosso 2º preparatório, agora 6º, porque o nosso primário tinha só 4 anos. Era pois o único ano em que a nossa contagem ascendente coincidia com a descendente deles.

Creio que a nossa situação não é melhor do que a francesa. Nas turmas das nossas escolas, temos a mesma lógica de progressão, com os correspondentes chumbos, a mesma selecção pela negativa que conflui nos CEFs, cursos de baixa exigência, tanto técnica como científica e humanística. Nâo será uma parte significativa dos alunos que fazem os CEF constituída por alunos que, num dado momento, por verificarem que não conseguem acompanhar o ritmo do "curso" previsto, desistiram de estudar? Reparem que não estou preocupado com a qualidade dos alunos que frequentam os CEF. Isto é, não acho que deveriam ser outros. O que me preocupa é a qualidade da escolaridade destes alunos, a sua preparação para a vida. Neste contexto, os CEF são um avanço, pois anteriormente, muitos destes alunos abandonavam a escola.

Tudo se resume ao seguinte: criar um sistema de gestão das aprendizagens baseado numa avaliação verdadeira, descritiva e não hierarquizadora, permitindo valorizar sempre a progressão de cada um, sem chumbos, nem recriminações.

01
Jun06

A sociologia vai à escola

Redes
Confesso a minha desconficnça relativamente aos sociólogos, especialmente aos que se dizem "da educação". É uma doença que persiste em mim, apesar de todos os esforços que faço para me recompor. As declarações da senhora ministra da educação puseram-me em nova recaída. É que os sociólogos analisam a educação. Demonstram como os factores sociais intervém. Mostraram que a escola está ao serviço da desigualdade social. Agora como já não está na moda acusar a burguesia, o capitalismo, o aparelho de estado a serviço destas forças tenebrosas, o assunto é a escola e os professores. São os professores que seleccionam: escolhem os melhores alunos para a manhã e os piores para a tarde. É evidente que os da parte da manhã virão a ser no futuro profissionais liberais, doutores, professores, advogados, médicos. Quanto aos da tarde, irão alimentar as fileiras da exclusão social. A uns são dados os melhores professores, aos outros os piores. Os professores perpetuam-se como classe dominante, escolhendo para os seus filhos os melhores horários e os melhores colegas! A generalização é posta assim, claramente. Como se faz tal coisa e em que medida é que isso acontece? Pelo que os "media" disseram não sei se houve alguma quantificação. Eu, por exemplo, sou professor de vários filhos de colegas e de funcionários. Mas, nas turmas em causa, tenho alunos de meios com muito menor cultura literária, de recursos económicos baixos e um ou outro que se encontra perto da pura marginalidade social, com anos de repetência e uma irreverente indiferença pelos trabalhos escolares. À senhora ministra não ocorreu a possibilidade de essa selecção, que reconheço ser de ordem social, resultar de jogos que nem os próprios professores que gerem as escolas conseguem controlar, como é o caso dos transportes escolares, e a localidade de origem dos alunos. Que ganharíamos em pôr os filhos dos professores com os piores? A senhora ministra acha mesmo que o factor professor é o decisivo? Pois, eu digo-lhe abertamente que não é. Não há qualquer diferença entre a qualidade dos professores das melhores escolas e a dos das outras. O factor essencial é esse mesmo que a senhora ministra parece querer esconder, aquele mesmo factor que a geração agora no poder, há 20 atrás, denunciava, e que lhe devia ser muito caro: o factor social. Há famílias mais estáveis, encarregados de educação mais preocupados, com mais recursos culturais, em certos grupos sociais, do que noutros. Por acaso, isso tende a coincidir com níveis de rendimento mais elevados. Claro que quero o meu filho junto dos amigos, que por acaso tendem a ser, na sua maioria, do mesmo nível cultural ou de rendimento que o dele. Não preciso de fazer nenhuma falcatrua para obter isso. Eles entraram juntos para a escola do nosso bairro, onde acontece não haver uma grande diversidade de níveis de qualidade habitacional. Isso continuará a ser assim, enquanto a sra ministra não começar a fazer engenharia social no meu bairro e ordenar por exemplo que as barracas do Casal Ventoso venham para aqui, para "igualizar" a sociedade. Já agora prosseguia por esse caminho e fazia umas experiências de proletarização à chinesa. Quando o meu filho foi para o ciclo, a maior parte dos colegas do primário ficaram na mesma turma. Acha que devíamos separá-los? Pois o factor "para onde vai o colega" é decisivo para estas crianças, na hora da mudança de escola. Agora, senhora ministra, quer ser psicóloga ou socióloga? No primeiro caso, achará que essas crianças devem continuar juntas, no segundo, achará que os "burguesinhos" devem ser dispersos pelas turmas do proletariado e mesmo do "lumpen", para combater a desigualdade social. Pois o reverso da medalha também existe: os aprendizes de "gang" também vão continuar juntos, assim como os de menores recursos, os mais rurais, os que têm maiores dificuldades de aprendizagem, etc. Pois o meu filho continuará com os seus colegas da classe média, sim, porque os da classe alta, já não têm os filhos na escola pública, a não ser que também tenham lá no seu bairro uma escola pública, quase só deles. Agora, os senhores da alta exigem aos professores que ponham os filhos nas piores turmas, para provarem a sua dedicação ao bem público, enquanto a maioria deles já optou pelo ensino privado. Quando os professores começarem a fazer isso, é sinal que já toda a classe média terá feito o mesmo e que a escola pública terá então apenas os professores que não conseguem emprego no ensino privado e os filhos das classes mais desfavorecidas. A senhora ministra parece ter desistido de aplicar o socialismo científico a toda a sociedade, mas já que não pode, aplicá-lo-á no seu jardim - as escolas. E já fez um progresso notável que foi descobrir nos professores a classe dominante nessse microcosmo. E agora desata a malhar neles! A senhora ministra não sabe o que é ter uma turma com 20 crianças ávidas de aprender e 8 que pura e simplesmente não estudam, não estão atentas, não querem saber de nada, de entre as quais, 3 são capazes, nos dias em que não faltam, de se levantar, deitar uma mesa ao chão só para ver como é que o professor reage. Perturbam o trabalho da maioria e desencaminham alguns dos outros. Perda de qualidade de ensino! Depois falam na falta de élites científicas e tecnológicas em Portugal. Ou, então, talvez esperem que a criação dessas élites se faça apenas no privado. Pois já tive turmas com essa composição, incluindo nos 20, alguns filhos de professores. Claro que a senhora ministra saberá com os seus "Bourdieu" e congéneres, a explicação para esta fatalidade. O problema dos sociólogos é pensarem que por terem uma teoria para um facto têm um remédio. Mas o meu "métier" é dar aulas não é analisar factos sociais, apesar de nas escolas superiores de educação e na formação quererem transformar os professores em quase-sociólogos. Talvez a pior coisa que tenha acontecido à educação foi a sua conquista pela sociologia. Perdoe-me a classe dos sociólogos por esta generalização, mas quem começou a falar "em geral" dos professores, foi a Sra Ministra.

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